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Estudo indica baixa presença de anemia entre crianças residentes em comunidade dos Coelhos, no Recife

Embora a taxa geral seja de 10,2%, a incidência entre os bebês que mamam preocupa por ser maior

Por Maik Santos

Apesar das condições sociais adversas, crianças de baixa renda do bairro dos Coelhos, na região central do Recife, apresentam uma taxa de prevalência de anemia considerada leve. A constatação, apontada na dissertação “Prevalência e fatores associados à anemia em crianças menores de cinco anos em uma comunidade de baixa renda”, defendida por Paola Frassinette de Oliveira de Albuquerque Silva, no Programa de Pós-Graduação em Saúde da Criança e do Adolescente da UFPE (PPGSCA), aponta que esse resultado pode ser reflexo da cobertura da Estratégia de Saúde da Família na área estudada, que possui duas Unidades Básicas de Saúde (UBS) e pela proximidade da comunidade com um hospital de referência do estado de Pernambuco.

Segundo a pesquisadora, que contou com a orientação do professor Pedro Israel Cabral de Lira e coorientação da professora Fernanda Cristina de Lima Pinto para desenvolvimento da pesquisa, a taxa de 10,2% de presença de anemia entre as crianças da comunidade é tida como um problema de saúde pública leve pelos indicadores da Organização Mundial da Saúde (OMS), mesmo diante de uma comunidade que possui situações de baixa renda. “O resultado diverge do que estudos anteriores com população semelhante em outras regiões do Brasil apontaram”, afirma.

Mesmo diante do quadro considerado leve do índice de anemia naquela população, o estudo disserta sobre a conhecida determinação multicausal da anemia, com condicionantes socioeconômicos, ambientais, de saúde, variáveis maternas, estado nutricional e consumo alimentar. No caso da pesquisa para a dissertação, destacou-se a ocorrência da não utilização do sulfato de ferro durante o período do pré-natal e o aleitamento materno como fontes significativas da presença da anemia nas crianças da comunidade. “A falta do sulfato de ferro durante o pré-natal pode ser explicada pelo fato dele poder provocar efeitos colaterais indesejáveis como diarreia, desconforto gástrico, falta de apetite, constipação, além do sabor metálico característico e do esquecimento em tomá-lo”, explica Paola. 

Segundo a dissertação, estudos antigos já apontavam que cerca de 40% das gestantes costumam abandonar o uso deste suplemento por iniciativa própria após melhora autorreferida do quadro de anemia, como a ausência de sintomas. Além disso, dificuldades financeiras se apresentam como fatores possíveis para a não utilização do composto. A autora explica o porquê da importância das gestantes não abandonarem o sulfato de ferro durante o gestação: “Estudos vêm comprovando que a suplementação de ferro na gestação tem impacto na diminuição da prevalência de anemia na infância, visto que, durante o período gestacional, a demanda nutricional de ferro aumenta significativamente”.

AMAMENTAÇÃO | Na pesquisa, crianças que estavam mamando no peito apresentaram maior frequência de anemia. Porém, a autora ressalta que, ao se estratificar por idade, a significância foi no grupo de crianças com mais de 24 meses de nascidas. “Este achado demonstra que a associação entre a ocorrência de anemia e mamar no peito não foi significativamente representativa nas crianças menores de dois anos”. É importante destacar, ressalta a autora, que a coleta de informações sobre aleitamento materno pode ser influenciada pelo viés de conveniência, visto que as mães podem omitir dados reais por possuírem temor de serem julgadas e/ou de perder o benefício do Programa Bolsa Família.

A pesquisadora explica que estudos anteriores não identificaram de forma precisa a associação entre aleitamento materno e anemia e justificaram o achado devido à dificuldade comum de se obter informação desta variável. Ainda segundo Paola, é necessário destacar que as práticas alimentares estreitamente relacionadas à presença da anemia na infância são: o curto tempo de aleitamento materno exclusivo, o consumo de leite de vaca, introdução tardia e consumo insuficiente de alimentos fontes de ferro, assim como alimentos estimuladores de sua absorção. “Além disso, a deficiência materna de micronutrientes, durante a lactação, pode causar redução na concentração de alguns desses nutrientes no leite materno”, alerta o estudo, que teve como base de dados presentes na pesquisa “Saúde, nutrição e serviços assistenciais numa população de baixa renda do Recife: um estudo baseline”.

A coleta de dados ocorreu durante os meses de junho a dezembro de 2014 com a população assistida pela Estratégia de Saúde da Família na comunidade dos Coelhos, no Recife. Foram incluídas crianças entre seis e 59 meses, que tiveram dosagem de hemoglobina. A variável dependente foi a anemia, classificada de acordo com a OMS, que considera anemia em crianças quando a hemoglobina é  menor que 11g/dL. As variáveis independentes foram os fatores socioeconômicos, ambientais e familiares, assistência à saúde, fatores biológicos e estado nutricional da criança, consumo alimentar e aleitamento materno e variáveis maternas. Os dados obtidos pela pesquisadora foram analisados com auxílio do software Statistical Package for the Social Sciences versão 13.0 e Stata versão 14.0.

Mais informações

Programa de Pós-Graduação em Saúde da Criança e do Adolescente
(81) 2126.8514
ppgsca@gmail.com

Paola Franssinette
paoola.frassinette@hotmail.com

Data da última modificação: 03/07/2019, 11:47