Pesquisa Pesquisa

Voltar

Amostragem revela que 88% dos celulares de profissionais de saúde têm bactérias causadoras de infecção

Por Ellen Tavares

A infecção associada à assistência hospitalar é a mais crescente no mundo, assim como a mortalidade relacionada à mesma. Um dos aparelhos que mais contribuem para essa disseminação de bactérias potencialmente causadoras de infecção dentro dos hospitais é o telefone celular, principalmente dos profissionais de saúde. A dissertação de mestrado “Avaliação microbiológica dos aparelhos celulares dentro do bloco cirúrgico – Avaliação em um hospital beneficente de Pernambuco”, apresentada ao Programa de Pós-Graduação de Cirurgia da UFPE e realizada pelo médico Cristiano Bernardo Carneiro da Cunha, verificou que 88% dos telefones celulares dos especialistas da área de saúde que trabalham em bloco cirúrgico observado servem de verdadeiros reservatórios de patógenos.

Segundo a pesquisa, foram colhidas amostras de 50 aparelhos celulares de profissionais de saúde do bloco cirúrgico de um hospital beneficente do Recife para avaliar o grau de contaminação, entre eles cirurgiões, anestesistas, perfusionistas, enfermeiros, e instrumentadores. O método consistiu em colher swabs umedecidos, que é um instrumento similar a uma haste flexível que serve para coletar amostras clínicas e logo após encubar. Suas leituras foram realizadas em 24 horas e 48 horas e os resultados foram separados de acordo com cada especialidade. O trabalho foi orientado pelo professor Fernando Ribeiro de Moraes Neto, titular da cadeira de Cirurgia Torácica da UFPE, e coorientada pela professora Verônica Monteiro, responsável pelo Serviço de Cardiologia do Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (Imip).

O estudo revelou que os celulares, em quase sua totalidade, estavam colonizados por flora permanente da pele dos especialistas de saúde, principais causadores de infecção de sítio cirúrgico. “Para os microbiologistas, a combinação do manuseio constante associado ao calor gerado pelos telefones cria um caldo de cultura ideal para muitos microrganismos que são normalmente encontrados na pele”, explica o cirurgião cardiovascular Cristiano Carneiro da Cunha. Ele acrescenta que a bactéria mais comum encontrada foi o Staphylococcus coagulase-negativa (vide imagem), seguida do Bacillus subtillis e Micrococcus.

De acordo com o pesquisador, diversas orientações são dadas em relação à limpeza das mãos, à descontaminação de superfícies e à limpeza de instrumentos utilizados na prática clínica. No entanto, existe pouca orientação quanto ao uso seguro de telefones celulares dentro de ambientes de saúde. “Programas de prevenção e controle de infecção precisam estar ativamente envolvidos na prestação de cuidados de saúde, oferecendo orientação e educação em como reduzir o risco de contaminação bacteriana de seus aparelhos móveis”, defende.

CUSTO | Os índices de infecção hospitalar (IH) seguem altos no Brasil, chegando a cerca de 15,5%. Após uma cirurgia, muitos pacientes apresentam complicações que afetam os resultados, aumentando a morbimortalidade, ou seja, o índice de pessoas mortas em decorrência de uma doença específica, e sobrecarregando o sistema de saúde devido ao aumento no tempo de permanência no hospital e os custos do tratamento dos clientes que são três vezes maiores que o custo dos que não possuem infecção. Para o pesquisador Cláudio, a IH é um evento histórico e social, não apenas biológico, que precisa de investimentos científicos, tecnológicos e humanos para a incorporação de medidas de prevenção e controle.

Mais informações

Programa de Pós-Graduação em Cirurgia
ppgc@ufpe.br 
(81) 2126.8519

Cristiano Carneiro da Cunha
cberardocc@yahoo.com.br

Data da última modificação: 27/07/2017, 18:01