Dois artigos na área de Saúde publicados na prestigiada revista The Lancet, em 2022, têm coautoria do professor Rafael da Silveira Moreira, da Área Acadêmica de Saúde Coletiva da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), do Campus Recife, e pesquisador do Instituto Aggeu Magalhães/Fiocruz-PE. Os dois trabalhos (“capstones”) fazem parte de estudos realizados em parceria com pesquisadores de diversas instituições ao redor do mundo.

Os artigos abordam o Global Burden of Disease (GBD), estudo epidemiológico observacional mundial mais abrangente até o momento. Liderado pelo Institute for Health Metrics and Evaluation (IHME) da University of Washington, Seattle (EUA), o estudo GBD oferece um recurso poderoso para entender os desafios de saúde em constante mudança enfrentados pelas pessoas em todo o mundo no século XXI.

Examinando as tendências de 1990 até o presente, o último estudo do GBD inclui dados sobre mortalidade e morbidade em 204 países e territórios, 369 doenças e lesões e 87 fatores de risco. Ao rastrear o progresso dentro e entre os países, ele fornece uma ferramenta importante para informar pesquisadores e formuladores de políticas, promover a responsabilidade e melhorar vidas em todo o mundo.

Segundo o professor Rafael Moreira, a publicação dos principais artigos do GBD em uma revista acadêmica é parte de um esforço para construir uma disciplina científica de estimativa, sujeita à revisão por pares independente e ao escrutínio público. Ainda de acordo com ele, esse rigor científico contribuiu para o desenvolvimento tecnológico ao longo dos anos e faz do GBD uma base essencial para alcançar progressos quantificáveis na saúde global. Inovações recentes incluíram o índice sociodemográfico e a integração da desagregação específica por sexo dos dados.

Confira os resumos dos artigos publicados na The Lancet

1 - Artigo “Assessing performance of the Healthcare Access and Quality Index, overall and by select age groups, for 204 countries and territories, 1990–2019: a systematic analysis from the Global Burden of Disease Study 2019”, publicado na revista The Lancet Global Health, em 6 de outubro de 2022.

Resumo

As necessidades de cuidados de saúde mudam ao longo da vida. Portanto, é crucial avaliar se os sistemas de saúde fornecem acesso a cuidados de saúde de qualidade para todas as idades. Com base no Estudo Global de Carga de Doenças, Lesões e Fatores de Risco 2019/Global Burden of Diseases, Injuries, and Risk Factors Study 2019 (GBD 2019), medimos o Índice de Acesso e Qualidade da Saúde (HAQ) em geral e para faixas etárias selecionadas em 204 países de 1990 a 2019.

Embora ainda existam grandes lacunas entre os níveis de desenvolvimento social e econômico, a menor distância do índice no grupo jovem (0 a 14 anos) é um sinal encorajador da redução das disparidades no acesso e na qualidade dos cuidados de saúde. No entanto, a distância nos grupos de adultos (15 a 64 anos) e idosos (65 a 74 anos) indica que o acesso e a qualidade dos cuidados de saúde estão atrasados em países com níveis mais baixos de desenvolvimento social e econômico. Para atender às necessidades das populações envelhecidas, os sistemas de saúde precisam melhorar o acesso e a qualidade dos cuidados de saúde para adultos em idade ativa e populações mais velhas, continuando a obter ganhos entre os jovens.

2 - Artigo “Adolescent transport and unintentional injuries: a systematic analysis using the Global Burden of Disease Study 2019”, publicado na revista The Lancet Public Health, em 29 de junho de 2022.

Resumo

Globalmente, transporte e lesões não intencionais persistem como as principais causas evitáveis de mortalidade e morbidade para adolescentes. Procuramos relatar tendências abrangentes na mortalidade e morbidade relacionadas a lesões para adolescentes de 10 a 24 anos durante as últimas três décadas.

Usando o estudo Global Burden of Diseases, Injuries, and Risk Factors 2019, analisamos a mortalidade e os anos de vida ajustados por incapacidade (DALYs) atribuídos ao transporte e lesões não intencionais para adolescentes em 204 países. A sobrecarga é relatada em números absolutos e taxas padronizadas por idade por 100.000 habitantes por sexo, faixa etária (10-14, 15-19 e 20-24 anos) e índice sociodemográfico (SDI) com intervalos de confiança de 95% (UIs). Relatamos mudanças percentuais em mortes e DALYs entre 1990 e 2019.

Em 2019, 369.061 mortes (das quais 214.337 [58%] foram relacionadas ao transporte) e 31,1 milhões de DALYs (dos quais 16,2 milhões [52%] foram relacionados ao transporte) entre adolescentes de 10 a 24 anos foram causados por transporte e lesões não intencionais combinadas. Se comparados com outras causas, o transporte e as lesões não intencionais combinadas representaram 25% das mortes e 14% dos DALYs em 2019, e mostraram pouca melhora em relação a 1990, quando tais lesões representaram 26% das mortes de adolescentes e 17% dos DALYs de adolescentes.

À medida que outras causas de mortalidade são focadas, o progresso lento na redução da mortalidade por transporte e lesões não intencionais como proporção das mortes de adolescentes torna-se aparente. A mudança relativa na carga de lesões de países com alto SDI para países com baixo e médio SDI requer ação focada. A carga persistente de DALYs relacionada ao transporte e lesões não intencionais indica a necessidade de priorizar medidas inovadoras para a prevenção primária de lesões em adolescentes.

Mais informações
Professor Rafael da Silveira Moreira
rafa.moreira@ufpe.br