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Cruzeiro científico com participação da UFPE estuda área de ocorrência do pargo, peixe em risco de extinção
Expedição também realizou primeiro registro da espécie invasora peixe-leão no Maranhão
Da assessoria de comunicação do projeto
Coletar dados sobre a ecologia do pargo e conhecer melhor o ecossistema onde o peixe vive, além de seu contexto de uso, foram os objetivos de expedição recente realizada ao largo do Estado do Maranhão. O cruzeiro do navio de ensino e pesquisa Ciências do Mar II contou com pesquisadores de várias instituições do país e teve como chefe o professor Mauro Maida, do Departamento de Oceanografia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Com os resultados, os cientistas pretendem fornecer subsídios para a gestão pesqueira da espécie.
» Confira também o podcast Conexão UFPE sobre a importância dos oceanos para o planeta.
A pesca do pargo tem sido historicamente uma das mais importantes da área marinha nas regiões Norte e Nordeste do Brasil. No entanto, sofreu colapsos devido a declínios populacionais sequenciais durante as últimas três décadas, o que levou à sua classificação como vulnerável à extinção pelos critérios da lista vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN).
Foto: Divulgação
Navio contou com 22 pessoas a bordo para a expedição de pesquisa
A expedição reuniu integrantes das Universidades Federais de Pernambuco (UFPE) e do Maranhão (UFMA); Federal Rural da Amazônia (UFRA); Estadual do Maranhão (UEMA) e Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); e ainda do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação da Biodiversidade Marinha do Nordeste (Cepene-ICMBio).
O cruzeiro foi organizado pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA), em parceria com o Programa Repensapesca (Projeto Avaliação Ecossistêmica dos Recursos Pesqueiros Demersais e Pelágicos das Costas Norte e Nordeste: subsídios para um ordenamento pesqueiro sustentável), que atende à Chamada MCTI/MPA/CNPq Nº 22/2015, Ordenamento da Pesca Marinha Brasileira.
O Ciências do Mar II deixou a Baía de São Marcos no dia 19 de maio, retornando após cerca de 300 milhas náuticas de navegação. Durante o cruzeiro, foi observada intensa atividade de pesca artesanal na região, inclusive com barcos à vela. A expedição resultou em, aproximadamente, 200 horas de imagens de vídeo subaquático com o uso de towed câmeras. O professor Mauro Maida é o responsável pela construção e operação dessas câmeras que transmitem para a embarcação as imagens do fundo em tempo real.
As imagens mostram recifes mesofóticos – um tipo de recife que é formado por corais, esponjas e algas que não são muito dependentes da luz – de grande diversidade, com presença de esponjas, corais, algas, além de diversas espécies de peixes. Foi feito também o primeiro registro no Maranhão de ocorrência do peixe-leão, espécie de peixe invasora, que representou um recorde de profundidade de no Brasil: 70 metros, conforme imagens feitas por câmeras subaquáticas. “Encontramos um recife mesofótico muito rico a cerca de 90 milhas náuticas de São Luís, em profundidades que variaram entre 66 e 79 metros, próximo da quebra da plataforma continental”, explicou o professor Mauro Maida.
Foram também coletadas amostras de água e do substrato do fundo do mar e exemplares oriundos de pesca científica e praticada por barcos de pesca artesanal registrados na área. Dos pargos, os pesquisadores querem obter informações sobre a ecologia e os habitats onde vivem, obter parâmetros populacionais como tamanho e peso, além de conhecer o ciclo de vida, como com que idade começam a se reproduzir, como se distribuem e quantos tempo de vida têm os que são encontrados na área estudada.
A coordenadora do Repensapesca, professora Beatrice Padovani Ferreira, do Departamento de Oceanografia da UFPE, explica por que é importante entender a dinâmica espaço-temporal da espécie. “A exploração sustentável exige que se saibam quais as consequências de nossas remoções sobre as populações e sobre a própria pesca. Só podemos entender estas consequências enxergando como as populações interagem com a paisagem marinha ao longo de seu ciclo e como são afetadas pela pesca durante esta trajetória”, afirmou
O coordenador do Cepene-ICMBio, Leonardo Messias, que também participou da expedição, considera que os resultados podem se somar ao Plano de Recuperação do Pargo, elaborado em 2018 e em revisão por um grupo de trabalho. O oceanógrafo acredita que medidas como a criação de áreas marinhas protegidas, monitoramento permanente das áreas e dos barcos de pesca, cadastro de pescadores autorizados e fiscalização precisam ser cumpridas para garantir a manutenção do pargo como recurso pesqueiro.
NAVIO - Com 32 metros de casco (comprimento inferior do navio), o Ciências do Mar II é operado pela UFMA, que recebeu a embarcação de ensino e pesquisa em 2018 dos Ministérios da Educação e da Marinha. O navio oceanográfico tem autonomia para 12 dias no mar. O cruzeiro contou com 22 pessoas a bordo, entre pesquisadores, alunos dos cursos de Engenharia de Pesca e de Oceanografia, tripulantes e pessoal de apoio à pesquisa.
PEIXE-LEÃO - A expedição do navio Ciências do Mar II, voltada para estudos do pargo, uma espécie de peixe ameaçada de extinção, encontrou três peixes-leões. Eles tinham cerca de 20 centímetros de comprimento. Estavam parados no fundo do mar, aparentemente à espera de uma presa. O achado dos peixes-leões está sendo reportado ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), vinculado ao Ministério do Meio Ambiente, pela coordenação do cruzeiro científico.
O peixe-leão, espécie invasora e venenosa, teve seu primeiro registro no Estado do Maranhão, no Nordeste do Brasil, durante um cruzeiro científico realizado em maio. O relato se constitui em mais uma ocorrência inédita: a profundidade de 70 metros, conforme imagens feitas por câmeras subaquáticas, a maior para avistagens no País. Em Fernando de Noronha estava a 23 metros e, no Ceará, em currais de pesca com 3 a 4 metros de profundidade.
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