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Livro aborda personagens, ideias e instituições da Antropologia recifense

Lançamento será amanhã (26), às 9h30, na Capela do Hospital Ulisses Pernambucano (Tamarineira)

O Observatório de Cultura, Religiosidades e Emoções (Ocre), vinculados ao Programa de Pós-Graduação em Antropologia (PPGA) da UFPE, vai promover o lançamento da obra “A nova Escola de Antropologia do Recife: ideias, personagens e instituições”, amanhã (26), às 9h30, na Capela do Hospital Ulisses Pernambucano (Tamarineira). Na ocasião, haverá três palestras sobre os tremas abordados na publicação, que também será lançada no sábado (28), às 16h, no terreiro de Candomblé Ilê Yemanjá Ogunté, localizado no Bairro de Água Fria, na Rua Abdon Lima, nº 86.

A publicação, que reúne artigos de vários autores sob a organização da professora Roberta Bivar Carneiro Campos (PPGA-UFPE) e da bolsista de pós-doutorado do PPGA Silvana Sobreira de Matos e da ex-bolsista Fabiana Maria Gama Pereira, é editada pela EdUFPE e conta com orelha do professor Sergio B. F. Tavolaro, do Departamento de Sociologia da UnB, e prefácio da professora Fernanda Arêas Peixoto, do Departamento de Antropologia da USP.

Dentre os temas dos artigos elencados na obra, constam, entre outros, “Uma Antropologia entre Terreiros e Sanatórios: Notas Introdutórias”, de autoria de Roberta Bivar C. Campos, Fabiana Pereira e Silvana Sobreira de Matos; “Os Movimentos Modernistas e Regionalistas e seus Impactos na Institucionalização da Antropologia Pernambucana”, de Fabiana Pereira; “Religiões Afro-brasileiras: Construção e legitimação de um campo do saber acadêmico (1900-1960)”, de Vagner Gonçalves da Silva; “Uma Antropologia à beira do mangue (Notas para uma história mais inclusiva da Antropologia no Brasil)”, de Antonio Motta, e “René Ribeiro, Gilberto Freyre e o Projeto Unesco de Relações Raciais em Pernambuco”, de Marcos Chor Maio.

Prefácio

Novas miradas sobre a história da Antropologia no Brasil (Por Fernanda Arêas Peixoto)

O esforço auto reflexivo acompanha a Antropologia desde os princípios. Repensar teorias, reconsiderar procedimentos e rever a história têm sido exercícios realizados pelos antropólogos, com objetivos e inspirações diversas. No Brasil, especificamente, é possível localizar uma já robusta literatura dedicada à produção nacional; tradições, subdisciplinas, profissionais e instituições são objetos de escrutínio de teses, artigos e livros, que escrevem e reescrevem os percursos da Antropologia feita no país. A Nova Escola de Antropologia do Recife: ideias, personagens e instituições é mais um esforço nessa direção, inserindo-se em uma linhagem algo consolidada, com a qual o livro estabelece um diálogo crítico, localizando filiações (em relação aos trabalhos pioneiros de Mariza Corrêa nesse domínio, por exemplo) e marcando distanciamentos. A motivação de fundo da empresa é expandir a compreensão da Antropologia brasileira em função da ampliação do mapa da produção nacional, pela incorporação de regiões e figuras ora silenciadas, ora mencionadas rapidamente. Contribuir para a elaboração de uma “Antropologia mais inclusiva”, nos termos de Antonio Motta, que jogue luzes sobre o que ficou às margens, e que foi muitas vezes, e pejorativamente, designado como “periferia”.

Vasculhar fontes e dados, localizar acervos, colher depoimentos, reler textos, estes constituem os esforços primeiros, e louváveis, do amplo projeto de pesquisa que está na origem da publicação, e cujos resultados se concentram na segunda parte do livro, dedicada ao Serviço de Higiene Mental do Hospital da Tamarineira do Recife que, sob a direção de Ulysses Pernambucano nos anos de 1930, reunirá um grupo de médicos-pesquisadores voltado ao estudo da vida social e religiosa da região, particularmente interessado nos chamados “Xangôs” do Recife. A atuação e os escritos de Ulysses Pernambucano, Albino Gonçalves Fernandes, René Ribeiro, Waldemar Valente, Pedro Cavalcanti e Vicente Lima, alguns dos personagens aí tratados, deixam ver uma profícua produção, baseada em levantamentos estatísticos e em incursões etnográficas, dedicada a descrever as casas religiosas, seus participantes e rituais.

Os oito artigos que compõem essa segunda seção permitem sondar, de um lado, o valor histórico e etnográfico da produção de um grupo heterogêneo, que logrou obter acesso privilegiado a terreiros e lideranças, também porque os estudos científicos por eles realizados desempenharam papel importante na proteção de parte das casas religiosas, na alça de mira do Estado e das perseguições policiais nos anos 1930. De outro lado, os textos lançam sugestões para pensarmos as fortes relações entre Antropologia e Psiquiatria em um contexto específico.

À parte segunda, “A Nova Escola de Antropologia do Recife e seus Personagens” -não por acaso a mais ampla já que reúne os resultados do projeto de pesquisa coletivo - combina-se uma primeira, “A história e a formação de um campo de saber”, dedicada ao Movimento Regionalista, ao I Congresso Afro-Brasileiro, ao Departamento de Antropologia do Instituto Joaquim Nabuco e aos resultados do Projeto Unesco no Recife, que visa funcionar como um contexto ampliado, ou como um modo de “revisitar alguns eventos históricos”, como dizem as organizadoras nas “Notas Introdutórias”.

A terceira seção, por sua vez, intitulada “Desdobramentos e diálogos com esses personagens”, quer seguir os rebatimentos dessa produção menos considerada pelas histórias disponíveis, de modo a reinseri-la nos debates e na história. Ainda que pareçam gravitar em torno da parte central, esses segmentos estão longe de funcionar como meros complementos, pois que reveem, de outros ângulos, a produção de certos autores (a de René Ribeiro, por exemplo), contribuindo para pensá-los na relação com outros (com Mário de Andrade e com a Missão de Pesquisas Folclóricas por ele coordenada, cujos participantes visitam o Recife em 1938), além de permitirem entrever usos futuros de suas obras, como ensaia a parte terceira.

Gilberto Freyre é figura fundamental em toda essa história e, não por acaso, objeto de três dos artigos do livro, ainda que mencionado praticamente em todos eles. Freyre que liderou a cena intelectual e cultural pernambucana nos anos 1920 e 1930, à frente do Movimento Regionalista e do I Congresso Afro-Brasileiro, que criou instituições como o Instituto Joaquim Nabuco, que produziu obras de repercussão imediata, como Casa-Grande & Senzala, e cuja atuação e produção contribuíram para incluir o Recife no mapa do projeto Unesco, reverberando também na produção médico-antropológica do grupo reunido em torno de Ulysses Pernambucano no Serviço de Higiene Mental. Gilberto Freyre que, se foi responsável por fomentar a produção da região em diversos domínios, talvez tenha colaborado (mesmo que à sua revelia) para deixar na sombra parte de seus parceiros e colaboradores. O que nos leva a pensar que os complexos processos de “tornar visível” e/ou “fazer invisível”, sobre os quais o livro se detém, são movimentados por diversos tipos de clivagem, e não apenas as que teimam em opor “centros” e “periferias”.

Dentre as contribuições que o volume aporta reside o seu esforço em indicar novas trilhas de investigação que, esperamos, continuarão a ser seguidas e exploradas. Além disso, a sua leitura abre uma série de questões a todo aquele envolvido com a tarefa de repensar a Antropologia. Sugiro apenas uma delas, que se relaciona à motivação de fundo do projeto, qual seja: tirar do esquecimento personagens descartados, tomados como “envelhecidos” ou “ultrapassados”, razão pela qual “invisibilidade” e “esquecimento” são termos sistematicamente empregados, motores a alimentar parte significava das análises realizadas. É possível dizer que estamos diante de um projeto engajado, intelectual e politicamente, que visa rever o cânone, reinserindo cenários e nomes que permaneceram acantonados nas regiões “periféricas”, transferindo-os ao proscênio.

Mas como operar essa mudança de posição convertendo-a em deslocamento analítico? Como colocar-se nas “margens”, não apenas clamando por sua centralidade, mas indagando sobre o que essa posição revela, que só ela revela? Como livrar certos autores de epítetos como “ultrapassados” ou “conservadores”, destacando a importância e o vigor de seus empreendimentos, a despeito das discordâncias que possamos ter em relação a eles? Estes são problemas fundamentais que se abrem na direção de uma indagação mais ampla sobre os sentidos de escrevermos, nós antropólogos, a história da Antropologia.

A última parte do volume (“Desdobramentos e diálogos com esses personagens”), voltada aos ecos da chamada “Nova Escola do Recife”, sugere passos importantes nessa direção, quando evidencia a riqueza do material histórico-etnográfico (escrito e imagético), deixado por essa geração, nos perguntando ainda sobre os efeitos que essa literatura produz nos pesquisadores e praticantes do candomblé hoje, o que nos reconduz à questão anteriormente sugerida: quais os efeitos que o reencontro com essa cena, instituições e personagens produz no que fazemos e pensamos hoje? Não posso encerrar sem fazer menção às belas e interessantíssimas fotografias que acompanham o livro, que talvez nos auxiliem a pensar o lugar da imagem nas retomadas históricas que temos feito. O que essas imagens mostram de certas cenas e personagens? Será que elas não evidenciariam outros de seus contornos? Talvez seja este mais um caminho a ser percorrido pelas pesquisas futuras.

Data da última modificação: 26/07/2018, 12:25

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