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Professora de Música promove aula prática de neurociências no ensino da música em Laboratório de Neuroanatomia da UFPE

Os alunos puderam ver as estruturas neurais responsáveis pelo aprendizado e comportamento humano

Por Petra Pastl

A turma da disciplina “A perspectiva das neurociências no ensino de música”, lecionada pela professora Viviane Louro, do curso de Licenciatura em Música, do Centro de Artes e Comunicação (CAC) da UFPE, teve, no dia 1º deste mês, uma aula prática bastante diferente, fora da rotina da sala de aula: eles foram ao laboratório de neuroanatomia da UFPE para consolidação do aprendizado teórico dos assuntos abordados. Os alunos puderam ver as estruturas neurais responsáveis pelo aprendizado e comportamento humano e discutir como esse conteúdo pode contribuir com a formação do professor para que suas aulas sejam mais adequadas à realidade dos alunos.

Fotos: Divulgação

Alunos e professora Viviane (de blusa bege e bata branca, à direita) durante a aula no laboratório.

É a primeira vez que a professora Viviane ministra essa disciplina, que é uma eletiva, portanto não tinha pré-requisitos e alunos de outros cursos puderam se matricular também. Além de discentes do curso de Licenciatura em Música, também havia pessoas de Psicologia e de Pedagogia.

Poucos anos antes da pandemia, o conteúdo dessa eletiva e da aula prática era dada dentro de uma disciplina obrigatória, o que impedia alunos de outros cursos de participarem. Por isso, a professora Viviane teve a ideia de mudar o conteúdo e transformá-lo em eletiva.

“Como eu pesquiso sobre neuroeducação e a base dessa minha disciplina é entender como o cérebro aprende, como potencializar esse aprendizado, e quais as áreas do cérebro estão relacionadas ao aprendizado musical, então a experiência da aula prática acaba proporcionando muito encantamento. Os alunos podem pegar, literalmente, no cérebro humano, olhar as estruturas neurais de perto, e ficam muito motivados, com vontade de ler mais sobre o que estamos discutindo. Eu levo os alunos mais para mobilizá-los emocionalmente, sei que é uma experiência diferente e marcante. Eles ficam esperando semanas por essa aula”, explica a professora Viviane Louro, que pretende continuar oferecendo essa disciplina em outros semestres letivos.

Durante a disciplina, os discentes discutiram assuntos relacionados aos processos de aprendizagem, memória, atenção, cérebro social, a relação dos neurotransmissores, o que cada um faz no cérebro e como reverter isso quando é um processo cognitivo negativo. Por exemplo, áreas específicas do cérebro são responsáveis pelo comportamento diante de um grupo. “Quando estamos em sala de aula, estamos em grupo, consequentemente as relações entre as pessoas interferem profundamente em nossos processos cognitivos. Logo, a postura de um professor interfere muito nas emoções dos alunos em sala de aula. Ela vai contribuir com a mudança de toda a parte química do cérebro. Um aluno que passa medo constante em sala de aula por causa de um professor, ou que sofre bullying de qualquer tipo, libera cortisol, este por sua vez, atrapalha a memória. O contrário também funciona, um aluno que está feliz nas aulas, em grupo, seu cérebro libera serotonina, e por consequência melhora a sua atenção”, completa a professora.

A docente também explica que partes do cérebro de instrumentistas e de pessoas que estudam música são diferentes das pessoas que não são instrumentistas. Alguns tópicos interessantes é que o cerebelo de pianistas é maior; o corpo caloso [área que liga os dois hemisférios cerebrais] dos músicos é mais robusto; o lobo temporal [responsável pela audição] de quem tem o chamado “ouvido absoluto” tem áreas diferentes mais desenvolvidas, ou seja, há áreas do cérebro que funcionam para quem tem essa característica, e áreas que não funcionam para quem não tem.

EXPERIÊNCIA - Para os alunos que estiveram presentes, a experiência da aula no laboratório de neuroanatomia ficou marcada mais do que no registro escolar, mas na memória. “Foi a melhor aula que eu já tive. A experiência foi incrível, a sensação de realmente ver o que cada parte do nosso cérebro faz fora do teórico é sensacional. Sentir a textura, os tamanhos e o peso de cada parte do órgão faz com que o conhecimento se torne mais satisfatório e memorável. A professora Viviane nos explicou tudo muito bem , facilitando assim nossa aprendizagem”, Jamylle Alencar, que tem 19 anos, e cursa o 3º período do curso de Pedagogia.

“A aula no laboratório foi uma experiência incrível. A disciplina em questão é de aspecto completamente teórico, mas o fato de termos ido ao laboratório fazer uma aula com partes reais do corpo humano foi muito significativo dentro da proposta da disciplina, pois materializou o que estávamos vendo em sala através de imagens e peças de plástico. Acredito que essa experiência contribui de forma ímpar para a massificação e memorização do conteúdo trabalhado, e também para a motivação para um aprofundamento no assunto de forma extracurricular”, Deyvison Lucas da Silva, 26 anos, do 7º período do curso de licenciatura em Música.

“Poder estudar aspectos da neuroeducação tendo a experiência de conhecer o laboratório de neuroanatomia foi uma experiência singular que transformou minha perspectiva sobre o ensino. Foram conhecimentos que, incontestavelmente, evidenciam para todos nós que o cérebro vai à escola e que saber seu funcionamento potencializará nossas práticas pedagógicas. Pudemos aprender sobre o processo de aprendizagem a nível cortical tendo referentes concretos dessas estruturas de modo a integralizar teoria e prática educacional dentro do espaço universitário”, destacou Mauro Rafael, de 25 anos, do 10º período do curso de Pedagogia.

Para Luiza Villar, de 21 anos, do 4º período de Pedagogia, a professora Viviane Louro se tornou uma grande referência no estudo da neurociência. “Nesse sentido, estudar sobre esse campo do conhecimento tem sido grandioso para mim, enquanto estudante de Pedagogia conhecer o cérebro e todo o universo das neurociências tem sido fundamental para compreender os processos cerebrais da aprendizagem”, afirmou.

A professora Viviane Louro também é organizadora do livro “Tópicos em música e neurociências”, junto com o professor Antônio Nigro, também do Departamento de Música, lançado pela Editora da UFPE e disponível gratuitamente para baixar pelo site da editora. “Por mais aulas experimentais, pois o cérebro não aprende conteúdos, mas sim, experiências que causam impacto emocional”, destaca ela.

Mais informações
Professora Viviane Louro

viviane.louro@ufpe.br

Data da última modificação: 08/03/2023, 16:22