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Exposição Corpos Híbridos: estéticas artesanais com o contemporâneo cibernético

Obras do artista Judivan Lopes na Galeria Capibaribe no prédio do Centro de Artes e Comunicação (CAC) - Campus da UFPE

 

Período e local: 
De 1 de agosto a 20 de setembro de 2019
Na Galeria Capibaribe no prédio do Centro de Artes e Comunicação - CAC / UFPE - Av. da Arquitetura s/n
• Entrada pela Várzea, r. Acadêmico Hélio Ramos s/n | localização Google 

• Entrada pela BR 101, ao final da av. Reitor Joaquim Amazonas | localização Google 

 

Atabaque CibertoquesHá uma gama extensa de produção de arte utilizando suportes e recursos de tecnologias eletrônicas, assim como de arte participatória e relacional, não restrita a esses meios. A singularidade do trabalho de Judivan Lopes, ao cruzar estas possibilidades, encontra-se nas marcas da memória coletiva e individual do seu lugar. O artista alagoano traz referências das matrizes indígenas e africanas, por sua vez hibridizadas ao longo da história cultural de resistência à colonização na região nordestina, que raramente são afirmadas no território da arte contemporânea, especialmente entre artistas que se valem de tecnologias de ponta. Em conversa informal, Judivan comentou sobre a influência das “engenhocas”, esculturas cinéticas presentes na arte popular do Nordeste.

A exposição Corpos Híbridos é resultado de um processo de investigação colaborativo entre o artista/docente/pesquisador e estudantes do Grupo de estudos e Produção de Arte Tecnologia e Interatividade (Geparti) do Instituto Federal de Alagoas – campus Arapiraca. A proposta surgiu de uma adequação da oferta do ensino de arte para esse contexto escolar específico e acabou se tornando uma via potente de poética do artista, que está 
aprofundando esse vipes em 
pesquisa de doutorado na Unesp.

A memória cultural se faz presente nas obras – tanto nas técnicas e materiais como a xilogravura, a palha, o barro, a madeira, quanto na própria temática, com referências de ancestralidade em matrizes africanas e indígenas e de práticas antigas do cotidiano do interior, como o fogão à lenha e o ferro a carvão. A combinação do antigo/tradicional com a tecnologia contemporânea nos leva a pensar sobre a velocidade da obsolescência em contraste à memória afetiva das coisas e práticas descartadas, na presença de heranças culturais que constituem nossa humanidade. Nossas diferentes e peculiares formas culturais ao longo do tempo, marcando lugares, nos tornam animais humanos. Mas vale se perguntar sobre essa propalada “evolução” humana, com tantas possibilidades tecnológicas, do ponto de vista das relações de humanxs entre si e com o planeta em que vivem. Violência, racismo, xenofobia, machismo, lgbtfobia e tantas mazelas persistem na estrutura social, mental, sensível, cognitiva, inconsciente. Paradoxo da evolução técnica simultânea a uma estagnação humana que os corpos híbridos de Judivan e colaboradorxs trazem como ponto de 
partida para facetas exploradas em 
cada obra. Contradições da 
modernidade e algumas saídas: 
a presença da tradição não 
como um conservadorismo saudosista, mas como a possibilidade de resgatar pelo afeto essa humanidade embrutecida na era do capital pós-industrial. Para isso, convocam nossos corpos humanos à aproximação, ao toque, ao movimento, à interação.

Os sensores e dispositivos brincam com a idéia de reconhecimento: a memória humana e artificial, reconhecer-se como parte de uma comunidade cultural, os múltiplos caminhos identitários. Reconhecer-se como parte da obra, o corpo em inter-ação, acionamento e agência. O reconhecimento de gênero é binário? Qual cibercachorro reconhece cada inter-ator? Você se reconhece na arte ou a arte que te reconhece? Mais que um jogo de espelhos...

Mas quem separou ciência e arte? Quem separou natureza de cultura? Quem separou arte de artesanato? Juntemos tudo de novo, fujamos às lógicas binárias, ao tempo linear. Corpos híbridos reivindicam tempos cíclicos. Não há velho e novo, há o agora, a experiência viva e vivida, juntando memória e invenção.

 

Renata Wilner

 

Sobre o artista Judivan Lopes
professor e pesquisador de arte

Desde 1885 vem expondo trabalhos em variados meios: do bidimensional ao tridimensional sempre na busca de sua poética e de estéticas contemporâneas, seja no trabalho de cunho pessoal ou na produção com coletivos artísticos, é professor de Arte no Instituto Federal de de Alagoas - IFAL - Campus Arapiraca, onde desenvolve pesquisa voltada ao ensino e aos processos de produção de arte, Líder do grupo de pesquisa Lambe-Lambe Digital: as mil faces do mundo, coordenou até 2017 o ArtVírus: grupo de Arte Intervenção Urbana, coordena desde 2016 o Geparti - Grupo de Estudos e Produção em Arte Tecnológica e Interatividade, com quem atualmente desenvolve arte tecnologia, instalações utilizando componente eletrônicos e programação computacional que proporcionam interatividade. É doutorando em artes, orientando de Profa. Dra. Rosangela Leote,na linha de pesquisa: Processo e Procedimentos Artísticos, na Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho” - Unesp - Instituto de Artes (Campus São Paulo), mestre em Artes Visuais (2004), graduado em Licenciatura Plena em Educação Artística (2001) pela mesma universidade.