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Ex-alunos notáveis: FRANCISCO JULIÃO

FRANCISCO JULIÃO ARRUDA DE PAULA, advogado, escritor e político, nasceu em 16 de fevereiro de 1915, no engenho de Boa Esperança, de propriedade de seu avô, em Bom Jardim, Pernambuco; e faleceu, vítima de um enfarte agudo, no dia 10 de julho de 1999, aos 84 anos, no povoado mexicano de Tepoztlán, perto de Cuernavaca.

 

     

Filho de Adauto Barbosa de Paula e Maria Lídia Arruda de Paula, aos 13 anos de idade foi enviado para estudar em Recife, onde concluiu o curso secundário no Instituto Carneiro Leão em 1933. Ingressou na Faculdade de Direito do Recife em 1935, embora considerasse a medicina como a sua vocação. Na mesma época, comprou, junto com um colega, o Colégio Monsenhor Fabrício, em Olinda, tendo atuado como diretor e professor primário.

As ideais progressistas e revolucionárias que encontrou na Faculdade o influenciaram, fazendo-o começar a pensar em defender os camponeses. Ele considerava que sem a participação dos camponeses, não se poderia imaginar uma transformação da sociedade brasileira.

Antes de deixar a Faculdade, em 1939, convidou alguns colegas para montar um escritório de advocacia e trabalhar em defesa dos camponeses. Nenhum aceitou a proposta, e, em 1940, Francisco Julião foi sozinho para o campo, com a ideia de que era preciso criar entre os camponeses a consciência de seus direitos. Com o fim do Estado Novo e a redemocratização do país, ingressou no Partido Republicano (PR).

Na zona canavieira nordestina, constatou que muitos senhores de engenho alugavam terras. Uma parte delas era destinada aos que deviam trabalhá-la todos os dias. Esse tipo de trabalhador era chamado de eiteiro e recebia um pagamento em dinheiro. Outros alugavam a terra, pagando uma importância em dinheiro por ano, ficando ainda na obrigação de trabalhar certos dias para o senhor da terra, sendo denominados de foreiros. No Nordeste, a palavra “cambão“ expressa o dia de trabalho que o foreiro dá ao patrão sem receber nada em troca.

Em 1947 desligou-se do PR, aderindo pouco depois ao Partido Socialista Brasileiro (PSB). Num trabalho persistente, Francisco Julião procurava convencer os camponeses de que eles não deveriam mais trabalhar sem pagamento, por ser ilegal, comprometendo-se a defendê-los na Justiça, se fosse necessário. Para ele, era evidente a necessidade de organizar e unificar os camponeses. A presença de Julião conferiu dinamismo à seção pernambucana do PSB. Em 1954 foi o primeiro parlamentar eleito por essa legenda no estado, ao conquistar uma cadeira na Assembleia Legislativa.

Em janeiro de 1955, foi procurado por camponeses do Engenho Galileia, em Vitória de Santo Antão, PE, fundadores da Sociedade Agrícola e Pecuária de Pernambuco (SAPP), que precisavam de um advogado. Francisco Julião assumiu, então, o compromisso de defendê-los. Nos anos seguintes o tipo de associação adotada no engenho da Galileia se multiplicou no estado de Pernambuco. As associações camponesas formadas depois da SAAP ficaram conhecidas como Ligas Camponesas. Segundo Julião, a fase inicial de organização das ligas foi marcada por uma intensa repressão do governo estadual. Apesar disso o movimento cresceu rapidamente.

A expressão Ligas Camponesas surgiu nos jornais e representava a reação dos usineiros e latifundiários, que queriam colocar essas associações na ilegalidade. Foi um movimento importante, que sensibilizou as massas em toda parte do Nordeste. Francisco Julião preocupava-se em incorporar os camponeses ao processo de desenvolvimento da democracia brasileira. Os primeiros sindicatos foram organizados pelas Ligas, e Francisco Julião preparou diversos processos, possibilitando a fundação de inúmeros sindicatos em toda a zona canavieira.

Em 1958 foi reeleito com expressiva votação para mais um mandato na Assembleia Legislativa de Pernambuco, na legenda do PSB. Em 1959, venceu o processo judicial que garantiu a posse das terras do engenho da Galiléia para seus moradores, baseando-se em uma lei recém-promulgada que determinava a desapropriação da propriedade com pagamento de indenização ao antigo dono.

Em outubro de 1962, foi eleito deputado federal por Pernambuco, apoiado pela coligação do PSB com o Partido Social Trabalhista (PST). Após o golpe de 31 de março de 1964, permaneceu três meses na clandestinidade, antes de ser preso perto de Brasília. Permaneceu em diversas prisões durante 18 meses. Exilado, deixou o Brasil em 30 de dezembro de 1965.

Francisco Julião foi um dos atingidos pelo movimento militar de 1964. Preso e exilado, deixou o país em dezembro de 1965 com destino ao México. Com a anistia, retornou ao Brasil em 1979.

Durante 15 anos, foi exilado político no México, após ver recusado pedidos de asilo na antiga Iugoslávia (devido a um conflito entre o país e Cuba, uma vez que eram conhecidas as relações cordiais que Francisco Julião mantinha com o dirigente cubano) e no Chile. Francisco Julião ainda procurou a embaixada da Argélia, mas problemas internos de ordem política iriam retardar uma decisão. Finalmente, com a ajuda do amigo e escritor Antônio Calado, conseguiu fazer contato com a embaixada mexicana e ser aceito pelo país. 

No México, sentiu a forte presença camponesa e chegou a realizar pesquisa, no Estado de Morelos, com os velhos soldados de Zapata, sobreviventes da Revolução Mexicana de 1910.

A anistia política, decretada em 1979, possibilitou a sua volta ao Brasil.  Na década de 1980, participou das lutas pela redemocratização do país. Por meio das Ligas Camponesas, inspirou o MST (Movimento dos Trabalhadores Sem Terra) e outros movimentos políticos e sociais empenhados na melhoria de vida do povo brasileiro. 

Francisco Julião escreveu várias obras: Carta aos foreiros de Pernambuco, 1946; Cachaça, 1951; Irmão Juazeiro, 1961; Cartilha do Camponês; ABC do Camponês; Carta de Alforria do Camponês; Cambão: a cara oculta do Brasil, 1968; Os últimos soldados de Zapata, 1986; O que são as ligas camponesas? 1962.

Julião foi pioneiro em combater o tipo de estrutura latifundiária existente no Brasil e procurou criar uma consciência nacional sobre o problema agrário. De suas metas destacam-se: as lutas pela reforma agrária e pela libertação do camponês. A partir de 1990, passou a morar no Rio de Janeiro e, posteriormente, voltou ao México. Era casado e teve seis filhos. Sua morte repercutiu intensamente no Brasil e no exterior.

FONTES CONSULTADAS

FACULDADE DE DIREITO DO RECIFE; MELLO, Diogo Cabral de. Lista geral dos bacharéis e doutores que tem obtido o respectivo grau na Faculdade de Direito do Recife, (em continuação), de junho 1931 a dezembro de 1941. Recife: Secção de Artes Gráficas, Escola Técnica do Recife, 1941.

Francisco Julião. Disponível em: https://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/Jango/biografias/francisco_juliao. Acesso em: 12.02.2021.

Francisco Julião. Disponível em: https://www.camara.leg.br/deputados/130967/biografia. Acesso em: 16.02.2021.

GASPAR, L. Francisco Julião. Pesquisa Escolar Online, Fundação Joaquim Nabuco, Recife. Disponível em: http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar/index.php?option=com_content&view=article&id=425&Itemid=185. Acesso em: 16.02.2021.

Julião, Francisco. Disponível em: http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-biografico/francisco-juliao-arruda-de-paula. Acesso em: 12.02.2021.

Projeto de Lei Ordinária 1133/2020. Disponível em: http://www.alepe.pe.gov.br/proposicao-texto-completo/?docid=5932&tipoprop=p. Acesso em: 12.02.2021.

VILELA, M. A. F.; PORFÍRIO, P. F. A. Memória e política: a trajetória de Francisco Julião. Disponível em: https://revista.historiaoral.org.br/index.php?journal=rho&page=article&op=view&path%5B%5D=151. Acesso em: 12.02.2021.

Data da última modificação: 15/02/2021, 21:46