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Uso de tecnologia no ensino de inglês em escolas não é inovador, aponta estudo

Pesquisa foi desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Educação Matemática e Tecnológica (Edumatec)

Por Fernanda Soares

A tecnologia está presente na vida da nova geração de alunos e precisa ser usada como aliada na transmissão de conhecimentos. Nesse quesito, o papel da escola é unir as mudanças tecnológicas com o aprendizado de inglês, de modo a incentivar a fluência da língua. No entanto, esses novos meios precisam ser bem executados para gerar resultados positivos. Mas, para Leonardo de Albuquerque Moraes, essas tecnologias vêm sendo utilizadas "de forma periférica e não central", se mantendo dentro do esquema tradicional, com aula expositiva e exercícios do livro, sendo a tecnologia usada apenas em algumas situações.

Em sua dissertação "As tecnologias digitais nas aulas de língua inglesa: uso e percepções dos docentes", desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Educação Matemática e Tecnológica (Edumatec) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Moraes reflete sobre como os instrumentos mediadores do aprendizado e sua efetividade mudam sob a influência de diversos fatores como, por exemplo, o conhecimento tecnológico do professor e a infraestrutura de cada sala. Porém, para ele, não foi encontrada inovação no uso das tecnologias digitais. "De uma forma geral, a tecnologia é usada de forma previsível e tradicional. Foi assim que identifiquei na pesquisa. Usamos como referência o relatório europeu conhecido como DigCompEdu. Este relatório apresenta 6 níveis de apropriação da tecnologia digital pelo professor. Nenhum deles chegou no nível 4 de 6."

De acordo com o trabalho, os cursos de idiomas obtiveram um resultado mais significativo no uso da tecnologia no ensino, não apenas pelos materiais (como lousas digitais e jogos), mas também pela quantidade menor de estudantes por sala e uma baixa taxa de dispersão entre os alunos. Já em colégios, notou-se que as escolas particulares, apesar de conterem uma quantidade maior de alunos e não possuírem o mesmo nível de material dos cursinhos, como a lousa digital, têm uma metodologia que se assemelhou bastante às das escolas de idiomas. Já os colégios públicos deixaram a desejar.

Orientada pela professora Ana Beatriz Gomes de Carvalho, a pesquisa relata que a falta de estrutura das escolas públicas é enorme: sem salas apropriadas, equipamentos, computadores, internet banda larga etc. "Nas duas aulas observadas, em uma a professora usou o tradicional quadro, com a cópia do livro para a lousa e os alunos copiarem. Aula mais tradicional impossível. Na outra aula observada, foi a professora que providenciou o equipamento, que na ocasião foi uma caixinha de som no qual ela pôs uma música que se repetiu diversas vezes. Falta de infra estrutura, de investimento por parte do estado, de treinamento e de incentivos", relata Moraes.

Além disso, a falta de capacitação dos docentes também é prejudicial. "Há muitos profissionais vindos de outras formações e que ganharam sua vaga na escola por ter a fluência no idioma. De qualquer forma, observa-se que a maior parte dos professores pesquisados não são da formação em Letras. Diante do exposto, podemos perguntar, por que as escolas têm aberto a oportunidade para profissionais de outras áreas?", questiona. Foi observada também uma insuficiência dentro da própria licenciatura de inglês. "O curso é uma dupla habilitação, Português/Inglês, e de forma geral os cursos priorizam a língua materna e por isso, ao se formar, o aluno não tem o domínio em Inglês. O próprio curso tem um percentual muito pequeno dedicado ao uso de tecnologias digitais. Segundo relatório que usei na dissertação, que é de 2009, apenas 2,4% da grade curricular dos cursos têm disciplinas voltadas para tecnologia digital, e quando possuem, geralmente são eletivas", conta.

METODOLOGIA - O estudo é uma pesquisa qualitativa, cuja coleta de dados se deu a partir da observação sistemática em sala de aula, além de entrevistas semi estruturadas com os professores. Foram observadas seis escolas, sendo quatro de idiomas, uma escola particular e uma escola pública estadual. Apenas uma delas estava localizada na Zona Sul do Recife, sendo o restante da Zona Norte. Os alunos estavam na faixa dos 8 aos 18 anos, ou seja, nasceram numa época em que a tecnologia estava totalmente integrada no dia a dia em praticamente todos os setores de suas vidas. Foi assistida uma aula de cada um dos 11 professores acompanhados, em um total de 12 turmas diferentes.

Mais informações

Programa de Pós-Graduação em Educação Matemática e Tecnológica
(81) 2126.8952
edumatec@ufpe.br

Leonardo de Albuquerque Moraes
atletaleo@yahoo.com.br

Data da última modificação: 15/06/2022, 16:22