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Sensação de insegurança é fator predominante para escolha de carro particular como modo de transporte na RMR

A autora sugere a adoção de iniciativas como a implementada em Salvador, onde ônibus já dispõem de botão de pânico para ser acionado pelos motoristas, cobradores, e passageiros

Por Emilayne Santos 

Apesar de o transporte público ser uma opção para o planejamento urbano e a redução dos congestionamentos nas grandes cidades, o uso do automóvel particular tem crescido devido a diversos motivos, sobretudo a falta de segurança pública na Região Metropolitana do Recife (RMR). Essa relação é confirmada na dissertação de mestrado "Análise da influência da segurança pública na escolha do uso do carro como modo de transporte pela população da Região Metropolitana do Recife", defendida por Pâmmela Roberta Gonçalves dos Santos, no Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil da UFPE.

Sabendo que a segurança pública influi no comportamento da sociedade nas atividades rotineiras, como é o caso da locomoção, Pâmmela Gonçalves se dispôs a analisar os motivos pelo qual as pessoas optam pelo uso do carro particular. E, levando em contraposição a fatores como segurança, facilidade de acesso, status social, conforto e tempo de viagem, a segurança pública está como o primeiro critério na escolha do tipo de transporte para o deslocamento. "Diante das externalidades geradas pelo uso do carro, torna-se importante estudar os motivos do aumento da frota para obter melhorias na mobilidade urbana, a redução do uso do veículo particular é imprescindível", analisa.

Para chegar à conclusão, a pesquisadora recorreu à Aplicação do Método Analítico Hierárquico (AHP), incluindo o cálculo da população estatística, cálculo da amostra e elaboração do questionário com os critérios de tempo, conforto, segurança pública, status social e facilidade de acesso como motivadores ao uso do carro, aplicado a 270 pessoas, divididas por faixa de renda, no período de setembro a outubro de 2016, em diversos lugares da RMR. O resultado aponta que, apesar de a imagem do carro estar fortemente associada à agilidade e ganho de tempo, a segurança ainda é o critério de maior relevância para a escolha do automóvel particular. 

Segundo Pâmmela, os entrevistados que valorizaram o critério segurança pública não necessariamente sofreram algum tipo de ocorrência em outros modos de transportes. Alguns alegaram que experiências de traumas vividos em locomoção a pé ou por meio do transporte público os levaram ao uso do carro. Houve muitos relatos que os assaltos frequentes nos transportes públicos, mostrados na mídia, são a motivação suficiente para o uso do carro. Dados da Secretaria de Defesa Social de Pernambuco mostram que, entre os anos de 2011 e 2013, 60% das ocorrências de roubos foram a transeuntes. 

REALIDADE | A pesquisa, orientada e coorientada pelos professores Leonardo Herszon Meira e Anderson Luiz Ribeiro de Paiva, relata que a segurança pública nas grandes cidades do Brasil é um fator preocupante devido aos altos índices de violência. Em 2015, o relatório Índice de Progresso Social (SPI) mostrou que o Brasil estava na 11ª posição no ranking de países mais inseguros do mundo, levando em consideração taxa de homicídios, nível de crimes violentos, percepção sobre a criminalidade, terror político e mortes no trânsito.

Levantamento do Sindicato dos Rodoviários de Pernambuco aponta que, na Região Metropolitana do Recife, em fevereiro de 2017, foram registrados 329 assaltos a ônibus, contra 75 no mesmo mês de 2016. O aumento de um ano para outro foi de 438%. "Os usuários do transporte coletivo na RMR, certamente, são insatisfeitos com o tipo de serviço que lhes é oferecido diante do valor da tarifa que é cobrada. Isso porque os ônibus são desconfortáveis e a violência nos coletivos provoca o medo de realizar deslocamentos devido à sensação constante de insegurança", assegura Pâmmela.

No estudo, também são propostas medidas de políticas públicas a serem implantadas nas ruas e nos transportes públicos para garantir a sensação de segurança na RMR e também a redução do uso do carro. Nas ruas, as medidas a serem implantadas seriam: iluminação pública de qualidade e melhorias das calçadas, com fins de atrair as pessoas a se deslocarem a pé. Enquanto nos transportes públicos, as medidas citadas são a implantação de um sistema de informação nos ônibus com rota, localização e horários, isso porque a sensação de segurança tende a diminuir em locais desconhecidos; e de um sistema de videomonitoramento, já que as ocorrências diminuem em decorrência do uso de câmeras. 

A autora ainda sugere a adoção de iniciativas como a implementada em Salvador, onde ônibus já dispõem de botão de pânico, para ser acionado pelos motoristas, cobradores, e passageiros em situações de ocorrências policiais possibilitando prisões em flagrante.

Mais informações

Pós-Graduação em Engenharia Civil (PPGEC)
(81) 2126.8977 | 7923
poscivil@ufpe.br
 
Pâmmela Roberta Gonçalves dos Santos
pammelasantos@hotmail.com

Data da última modificação: 06/09/2017, 13:24