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Campanhas de prevenção à sífilis no Brasil focam no Tratamento como Prevenção (TcP)

Trabalho foi defendido pela psicóloga Marcelly Alpiano Rocha no Programa de Pós-Graduação em Psicologia (PPGPsi) da UFPE

Por Larissa Valentim

A sífilis é uma Infecção Sexualmente Transmissível (IST) bastante conhecida e com um histórico muito forte no Brasil. Há relatos da infecção no país desde o século XIX, período em que a doença se propagou bastante. Embasada nesse histórico com a IST, Marcelly Alpiano Rocha, psicóloga e mestra pelo Programa de Pós-Graduação em Psicologia (PPGPsi) da UFPE, analisou as noções de prevenção nas campanhas sobre sífilis, do Departamento de Vigilância, Prevenção e Controle das IST, do HIV/Aids e Hepatites Virais/Ministério da Saúde (DIAHV/MS), a partir dos repertórios linguísticos.

Na dissertação “Faça o teste! Os repertórios sobre prevenção de infecções sexualmente transmissíveis nas campanhas do Ministério da Saúde (Brasil, 2016 – 2018)”, a autora identifica a recorrência do “endereçamento das campanhas a casais heterossexuais, inseridas na lógica de prevenção da sífilis congênita – quando a infecção passa da mãe para o filho – e, consequentemente, na proteção a bebês”. Para conseguir estes resultados, a mestra em Psicologia analisou as informações textuais de 17 documentos, localizadas em cartazes, fôlderes, posts em redes sociais, avatares e headers do Facebook e Twitter, assinatura de e-mails, faixas e protetores de tela.

Além disso, ao analisar os repertórios sobre a prevenção da sífilis no Brasil, Marcelly Rocha encontrou dois caminhos principais: a priorização da estratégia “Tratamento como Prevenção (TcP)” central nas produções, e o aparecimento apagado do incentivo ao uso das camisinhas masculina e feminina; “entendendo que a disponibilidade do segundo recurso é maior que a do primeiro”. Ou seja, a realização de testes para sífilis aparece como principal ferramenta de prevenção seguindo as tendências mundiais de adoção da estratégia “testar e tratar”, diz a autora.

O trabalho, orientado pelo professor Jorge Lyra, também comenta que tornar possível a realização do teste e uma resposta a ele não assegura o acesso ao tratamento de imediato, em virtude de uma série de atravessamentos que envolvem a disponibilidade de insumos, questões técnicas e operacionais, entre outras. A dissertação atrela o foco das ações para mulheres e bebês com resultados significativos para a “redução da mortalidade materno-infantil discutida e reafirmada em acordos e metas em nível mundial, orientando a criação/fortalecimento de políticas e serviços para esse público”, relata Marcelly Rocha.

DESIGUALDADE | A autora destaca dois marcadores de desigualdade na oferta de cuidados com a saúde sinalizados pelos documentos do Ministério da Saúde e os dados epidemiológicos: “o primeiro refere-se à idade, quando observada a lacuna na oferta de cuidados as diferentes faixas etárias”; o segundo é que “os homens tornam-se público de prevenção de agravos e tratamento da sífilis quando identificados como parceiros sexuais das mulheres diagnosticadas com a infecção”, mesmo que, entre o ano de 2010 e o o primeiro semestre de 2016, 60,1% dos casos de sífilis adquirida tenham seu diagnóstico na população masculina.

“Com base nessas informações, consideramos importante pensar nos diálogos feitos pelo Estado em termos de propostas políticas e operacionais/metodológicas frente ao aumento das ISTs, considerando os dados epidemiológicos numa perspectiva crítica que nos aponta um problema político, econômico e social”, comenta a autora. A dissertação também aponta que “tais questões são importantes para que possamos refletir sobre os investimentos do nosso país em favor do compromisso com a saúde da população brasileira no que concerne a garantia dos nossos direitos sexuais e reprodutivos e do cumprimento dos acordos internacionais”.

Mais informações
Programa de Pós-Graduação em Psicologia da UFPE (PPGPsi)
(81) 2126.8271

secretariappgpsi@gmail.com

Marcelly Alpiano Rocha
marcellyalpiano@gmail.com

Data da última modificação: 27/08/2020, 11:19