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Chico Science vira nome de nova espécie de camarão descoberta no litoral de Pernambuco

A descoberta foi divulgada em artigo científico publicado pela revista científica Journal of Crustacean Biology da Universidade de Oxford, no último mês de setembro.

Por Maik Santos

Após 23 anos de sua morte, o cantor pernambucano Chico Science ganhou uma homenagem bem inusitada. O ícone do manguebeat nomeia uma nova espécie de camarão encontrada nas proximidades dos recifes de praias do Litoral Sul do Estado de Pernambuco, por pesquisadores ligados ao Laboratório de Biologia de Crustáceos do Departamento de Zoologia UFPE. A descoberta foi divulgada no artigo científico A new genus and species from Brazil of the resurrected family Macromaxillocarididae Alvarez, Iliffe & Villalobos, 2006 and a worldwide list of Stenopodidea (Decapoda), publicado pela revista científica Journal of Crustacean Biology da Universidade de Oxford, no último mês de setembro. O Departamento de Zoologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) também esteve envolvido no achado.

O estudo de identificação da espécie partiu de um trabalho de pós-doutorado, com bolsa oferecida pela Facepe e pelo CNPq, do pesquisador Gabriel Lucas Bochini e que contou com a colaboração de Andressa Cunha e Alexandre Oliveira, ambos da UFPE, e Mariana Terossi, da UFRGS. Neste trabalho, os pesquisadores analisaram amostras de camarões recolhidas em “armadilhas” postas nas regiões de Suape e Praia dos Carneiros. Em ambas as regiões, foi encontrado um camarãozinho, com cerca de 1cm, que os pesquisadores pensaram se tratar de uma nova espécie. Para comprovar as suspeitas, amostras do tecido do abdome do animal foram enviadas para análise no Laboratório de Carcinologia da UFRGS. 

Chegando lá, mais surpresas. Foi descoberto que o animalzinho não só se trata de uma nova espécie como também de um novo gênero. Os camarões encontrados apresentavam uma combinação de características de forma que a diferenciavam das demais espécies da infraordem Stenopodidea. Após um sequenciamento de DNA, feito pela professora Mariana Terossi, foi descoberto que o bichinho inseria-se, também, em “um novo grau de classificação acima da ‘espécie’, que pode ser formado por uma ou mais delas, desde que se compartilhe características básicas entre ambas”, segundo explica Oliveira.

NOME | O nome científico do novo camarão não foi escolhido por acaso. Tentando aproximar a ciência com a cultura popular e dado o local da ocorrência, os pesquisadores nomearam a espécie como Chicosciencea pernambucensis. Como é fácil de perceber, o nome faz uma referência ao artista que ficou conhecido como líder do movimento manguebeat, que tinha outro crustáceo, o caranguejo, como seu símbolo e ao local do Brasil onde ele foi primeiramente encontrado. 

O primeiro nome, “Chicosciencea”, identifica o gênero, enquanto o segundo, “Pernambucensis”, indica a espécie. Como podem existir mais de uma espécie dentro da categoria gênero, é possível que outros “Chicosciencea” possam vir a ser descobertos. Contudo, as informações sobre a espécie ainda são poucas. O pesquisador Alexandre Oliveira explica que, “por enquanto, só temos as informações mais básicas sobre ela: sua existência e que ela pode ocorrer em diversas partes do mar do Nordeste brasileiro”. Mais pesquisas devem ser feitas no futuro para explicar a importância dela para aquele ecossistema, status de extinção, etc.

Um último adendo feito por Alexandre Oliveira é de que a descoberta do camarão ocorreu antes do vazamento de óleo que atingiu o litoral do Nordeste. Muitas espécies marítimas foram afetadas pela catástrofe, e o camarão pode ser uma delas. Porém, assim como são necessárias novas pesquisas para conhecer mais do crustáceo, também será preciso realizar novos estudos que indicarão de que forma esse triste fenômeno afetou a nova espécie e em que grau. 

Mais informações
Departamento de Zoologia UFPE
(81) 2121.8353

Gabriel Lucas Bochini
gabriel.bochini@gmail.com

Data da última modificação: 12/11/2020, 11:19