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Agenda UFPE - Educação, Sustentabilidade e Desenvolvimento ressalta importância dos povos indígenas

Cacica Lucélia Cabral afirmou que, para os povos indígenas, a educação é um instrumento de luta

“Como bem diz Paulo Freire, a educação é a liberdade. E ela acontece em todos os espaços. Então, quando a gente luta pela demarcação de nosso território, é para que a garantia dessa educação para a liberdade aconteça.” As palavras são da cacica do povo Pankará Lucélia Leal Cabral, uma das convidadas do Agenda UFPE – Educação, Sustentabilidade e Desenvolvimento realizado na última sexta-feira (30). Com o tema “Universidade, povos indígenas e a sociobiodiversidade brasileira”, o encontro virtual comandado pelo reitor Alfredo Gomes contou ainda com a participação do professor da UFPE e doutor em Bioética Saulo Ferreira Feitosa e pode ser visto no canal da Universidade no YouTube.

Durante sua fala, a cacica Lucélia afirmou que, para os povos indígenas, a educação é um instrumento de luta. “É uma das ferramentas fundamentais para a luta dos direitos indígenas, pelo direito à demarcação da terra, para a garantia dos direitos humanos e para enfrentar os grandes problemas e projetos”, afirmou. Lucélia explicou ainda que a sustentabilidade para seu povo é realizada a partir do equilíbrio entre todos os elementos que componham o território, visto como sagrado. “O desenvolvimento para os povos indígenas é um desenvolvimento harmonioso, ligado à ancestralidade, à espiritualidade e ao desenvolvimento conectado com a natureza, com a terra”, disse. “Sem essas queimadas, sem esses desmatamentos, sem essas grandes fazendas que acabam com tudo o que é morada dos animais, da natureza”, completou.

“Nós não precisamos desenvolver nosso território acabando com tudo que tem nele. Nós temos que aprender a conviver nesse espaço reconstruindo sem destruir”, avaliou Lucélia, defendendo a importância da garantia do direito dos indígenas à terra e também do respeito aos povos indígenas. “O respeito precisa acontecer, mas não só porque somos indígenas e a Constituição garante isso, mas porque somos seres humanos e os nossos povos já sofreram demais”, reforçou a cacica. “São mais de 500 anos. São muitos anos de luta para estarmos ainda brigando por esses mesmos direitos, que são a garantia da vida. Precisamos que a Universidade, além do olhar científico, também abrace a luta e a tome com o olhar dos povos indígenas, com o olhar da vida, de resguardar a vida dos povos indígenas deste País”, finalizou a cacica Lucélia Cabral.

Para o professor Saulo Feitosa, os povos indígenas precisam mais do que nunca de apoio, e a Universidade pode ser um desses apoiadores. “Temos vivenciado um aumento muito grande do número de invasões territoriais no Brasil nos últimos anos. Os conflitos avançaram muito e os povos indígenas precisam consolidar as alianças para continuar resistindo, o que vêm fazendo muito bravamente há 500 anos”, afirmou o professor. “E a Universidade Federal de Pernambuco tem demonstrado consciência dessa importância de ter os povos indígenas como aliados pela universidade brasileira”, completou Saulo Feitosa.

“Há estudos que apontam que 80% da biodiversidade global é assegurada graças aos territórios indígenas. Graças aos povos que habitam nesses territórios”, disse o professor Saulo Feitosa. Essa segurança também é garantida na Caatinga, único bioma exclusivamente brasileiro. “Eles são aliados muito importantes para a manutenção dessa realidade sociobiodiversa. Por isso, precisam cada vez mais serem fortalecidos para lidarem com esses ataques que acontecem no dia a dia”, disse o professor Saulo. “Não tem como a gente falar em diversidade sem pensar na preservação desses povos”, completou o professor, que mostrou como os povos indígenas representam a maior parte da diversidade cultural do mundo, com cerca de 5 mil povos, falantes de aproximadamente 96% dos 7 mil idiomas falados no mundo. No Brasil, segundo dados do IBGE de 2010, são 305 povos e 274 línguas.

O Agenda UFPE da última sexta-feira (30) encerrou o primeiro ciclo de debates e apresentações. Foram oito encontros, todos virtuais, que serão reunidos em uma publicação, conforme explicou o reitor Alfredo Gomes. Em sua fala, o reitor prestou uma homenagem aos mais de 400 mil mortos pela Covid-19 registrados na semana passada. “Fica aqui a solidariedade de todos que participam deste evento e da comunidade da Universidade Federal de Pernambuco aos familiares e amigos de todos que foram mortos nesse processo”, destacou. Anunciou ainda as condições para contratação de professores para reabrir, de forma permanente, o curso de Licenciatura Intercultural Indígena, do Centro Acadêmico do Agreste (CAA). “Foi uma grande honra de nossa parte participar deste momento”, afirmou o reitor Alfredo Gomes. “Temos que introduzir em nossos currículos essa forma de pensar, de ver a sociedade brasileira. Nós temos que nos estruturar para o que vem no futuro, e o que vem no futuro é uma necessidade de reconhecimento de todos esses saberes”, afirmou o vice-reitor Moacyr Araújo.

Data da última modificação: 03/05/2021, 18:46