“Duplamente honrado e emocionado.” Foi assim que se definiu o sociólogo português Boaventura de Sousa Santos http://www.boaventuradesousasantos.pt/, diretor emérito do Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra, ao receber os títulos de Doutor Honoris Causa da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) na última sexta-feira (13) à tarde, no Salão Nobre da Faculdade de Direito do Recife (FDR). A mesa da solenidade foi composta pelo reitor da UFPE, Alfredo Gomes, e pela reitora da UFRPE, Maria José de Sena.

Fotos: Passarinho

Reitores entregaram os títulos na cerimônia prestigiada

Por se tratar de uma cerimônia dupla, o evento contou com dois discursos panegíricos, um para cada instituição que homenageava o professor. A professora Allene Carvalho Lage, do Núcleo de Formação Docente do Centro Acadêmico do Agreste (CAA), foi a responsável pelo discurso da UFPE. O discurso da UFRPE foi realizado pela professora Júlia Figueredo Benzaquen, do Departamento de Ciências Sociais da UFRPE. Ambas foram orientadas pelo professor durante seus doutorados na Universidade de Coimbra e fizeram parte das propostas dos títulos em suas instituições.

“A notoriedade do professor nunca o distanciou da luta das classes populares”, ressaltou Allene que, com citações a Chico Buarque e Vinícius de Moraes, compartilhou lembranças da convivência com o professor e destacou seu “olhar crítico, mas esperançoso sobre o mundo”. Para a ex-aluna, Boaventura é um intelectual ativista que compreende criticamente as possibilidades de avanço e realiza esforço também político por um mundo mais justo, frisando a necessidade do pensamento alternativo. “Ele é como um farol a iluminar e apontar as maneiras de resistência”, disse.

Júlia iniciou o discurso lembrando que o sociólogo tinha relação direta com a expansão das universidades no Brasil e é uma voz importante a favor da democratização do acesso ao ensino superior. Falou sobre a formação do professor e sua proximidade com dom Hélder Câmara, além de sua missão de revitalizar os direitos humanos à frente do CES. “Boaventura não é um intelectual de gabinete, mas um intelectual radical, como Paulo Freire”, afirmou. “Ele contribui incansavelmente na construção de mundos possíveis e na garantia de uma sociedade onde tenhamos justiça social e cognitiva”, completou.

Depois dos discursos, Boaventura fez uma fala sobre a justiça no Brasil. “O sistema judiciário brasileiro passa por uma crise de credibilidade profunda”, afirmou, lembrando que muitos estudantes de Direito não têm contato com os direitos humanos durante o curso. Ainda assim, mostrou-se otimista em relação ao futuro. “Estou com muita esperança em uma justiça democrática e sem manutenção de privilégios” disse. “Tudo farei em prol da democracia”, concluiu. O homenageado foi aplaudido de pé pelos presentes, que lotaram o Salão Nobre da FDR.

Boaventura recebeu as vestes talares – a samarra (beca) e o capelo (chapéu) típicos de solenidades acadêmicas – na cor azul, relativa às ciências humanas. “Com a concessão desse título, a UFRPE se motiva cada vez mais a ser intransigente na luta pela educação pública”, afirmou a reitora Maria José, da UFRPE. O acesso também foi ressaltado pelo reitor Alfredo Gomes, da UFPE. “Nossa missão é defender permanentemente uma sociedade e uma universidade cada vez mais inclusivas, persistindo no processo de democratização“, disse.

CURRÍCULO – Um dos sociólogos de maior prestígio internacional, Boaventura tem escrito e publicado extensivamente nas áreas de sociologia do direito, sociologia política, epistemologia, estudos pós-coloniais e sobre os temas dos movimentos sociais, globalização, democracia participativa, reforma do Estado e direitos humanos, com trabalho de campo realizado em Portugal, Brasil, Colômbia, Moçambique, Angola, Cabo Verde, Bolívia e Equador. É doutor em Sociologia do Direito pela Universidade de Yale (1973) e professor catedrático jubilado da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra.

Confira o álbum de fotos, de autoria do fotógrafo Passarinho, da Ascom UFPE.