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Comitê científico da UFPE propõe sugestões para Consórcio Nordeste enfrentar pandemia

Docentes da UFPE participaram de tele reunião com Sergio Rezende, ex-ministro da Ciência e Tecnologia e professor da UFPE, um dos coordenadores do Consório NE

O Comitê Científico Extraordinário para o Enfrentamento da Covid-19 formado por professores da UFPE sugeriu ontem (28) abordagens e medidas a serem incorporadas aos boletins divulgados semanalmente pelo Comitê Científico de Combate ao Coronavírus, órgão consultivo ligado ao Consórcio Nordeste. As publicações da equipe interestadual, que servem como parâmetros para tomada de medidas pelos governadores nordestinos no enfrentamento à pandemia da Covid-19, resultam de análise de dados e realidade formulada por um grupo de profissionais, sobretudo médicos, indicados pelos Estados do Nordeste, sob a coordenação dos pesquisadores Miguel Nicolelis e Sergio Rezende.

Em tele reunião realizada com Rezende, que é ex-ministro da Ciência e Tecnologia e professor emérito da UFPE, o grupo da Universidade apontou a necessidade de o gestor público atentar para questões que vão além dos temas estritamente clínicos e epidemiológicos, como o saneamento, urbanismo, comunicação e o direcionamento das medidas profiláticas e mitigadoras especificamente para as cidades mais vulneráveis, além de um olhar mais dirigido ao risco de contaminação no sistema prisional. Criado como instância consultiva para assessorar e propor diretrizes gerais dos planos de pesquisa voltados ao enfrentamento da pandemia, o comitê da UFPE é presidido pela pró-reitora para Assuntos de Pesquisa e Pós-Graduação, Carol Leandro, e o diretor de Pesquisa da UFPE, Pedro Valadão Carelli, que atua na vice-presidência.

COOPERAÇÃO – Atuando como convidado da reunião ordinária do comitê da UFPE, Sergio Rezende manifestou interesse em incorporar as sugestões à produção do grupo que ele coordena e sinalizou o desejo de que essa equipe de apoio aos estados nordestinos se mantenha em atividade no pós-pandemia. “Não temos mais a Sudene e enfrentamos a desorganização do governo federal, daí ser importante que nossos governadores possam contar com esse apoio científico de maneira perene”, afirmou. 

Quanto ao grupo da UFPE, o ex-ministro compartilhou a satisfação de manter uma relação de cooperação. Segundo Carol Leandro, esse foi o propósito da reunião: “Pretendemos alinhar nossa atuação com o grupo dos estados a fim de trocar experiências e aperfeiçoar os esforços”.

Na sua explanação inicial, Sergio Rezende explicou os objetivos e atividades do comitê interestadual e revelou algumas preocupações do grupo com relação ao Estado de Pernambuco. “Nossa sede fica em Salvador e nos reunimos virtualmente a cada semana para debater proposições elaboradas por subgrupos que formamos relacionados com temas específicos como virologia, casos clínicos, entre outros. Para Pernambuco, por exemplo, pedimos que sejam adotadas medidas de isolamento para as 112 microrregiões que ainda não apresentaram nenhum caso de Covid-19”, explicou.

Quanto às projeções de casos e óbitos com as quais o grupo trabalha, Rezende foi taxativo: “O pico dos casos no Nordeste deve ocorrer em junho, mas não vamos divulgar, pois além de ter uma margem de erro grande devido à subnotificação, os números são altos e podem causar pânico.” Representando Pernambuco, além de Sérgio Rezende na coordenação, o comitê científico do Consórcio Nordeste conta com os médicos Luiz Arraes (UFPE e Imip) e Sinval Brandão (Fiocruz).

 

Pesquisadores da UFPE apontam necessidade de novas abordagens

A professora Edvânia Torres Aguiar Gomes (CFCH), membro do Comitê Científico Extraordinário da UFPE para o Enfrentamento da Covid-19, pontuou para o professor Sergio Rezende na reunião de ontem (28) que um dos problemas a ser enfrentado pelos governantes durante a crise da Covid-19 tem relação direta com urbanismo. Segundo Edvânia, “as grandes mudanças do urbanismo moderno surgiram após pandemias; sem uma revisão nos planos de ocupação urbana não há como garantir imunidade das populações que residem em comunidades pobres, daí a necessidade de se olhar o urbanismo como fator de com essas pessoas”. Outra sugestão dela foi sobre a necessidade de dar mais visibilidade às ações dos comitês. “Precisamos melhorar a comunicação com a sociedade”, defendeu.

Representante do Centro de Tecnologia e Geociências no comitê da UFPE, a professora Sávia Gavazza dos Santos Pessoa, vice-coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil, demonstrou preocupação com o problema da transmissão do novo coronavírus por meio dos esgotos e pediu que esse alerta fosse compartilhado pelos membros do comitê interestadual. Já o professor José Luiz Ratton, do Departamento de Sociologia, indagou se os estudos que subsidiam o Consórcio Nordeste estão levando em consideração o risco de proliferação do vírus nos complexos penitenciários, ao que Rezende afirmou que não, e pediu a formulação das sugestões por parte dos docentes.

Para o professor João Henrique da Costa Silva, presente à reunião e membro do comitê da UFPE representando o Centro Acadêmico de Vitória (CAV), o risco e o aumento progressivo de casos e óbitos nas cidades de maior afluxo de pessoas, como Vitória de Santo Antão, demandam uma atenção redobrada do poder público. Sobre esse ponto, o professor Sergio Rezende afirmou: “O Brasil subestimou a violência dessa pandemia; achou-se que o clima tropical poderia atuar para minorar o impacto, e agora estamos correndo atrás do prejuízo. Essa questão das cidades como Vitória, que é cortada por uma BR e por conta disso tem grande movimentação de pessoas de fora, é um ponto que ainda estamos tentando contornar.”

Já o professor e geneticista Valdir de Queiroz Balbino, do Centro de Biociências da UFPE, se mostrou atento à escassez de recursos destinados à pesquisa, o que, segundo ele, vem comprometendo as iniciativas de mitigação dos impactos da pandemia. Balbino quis saber de Rezende que o comitê do Consórcio Nordeste tinha alguma recomendação para que os governantes da região fortaleçam suas agências de fomento à pesquisa, “a fim de que nos próximos anos, quando voltamos a enfrentar situação semelhante, possamos agir de maneira mais eficaz”. Segundo Sérgio Rezende, a demanda de “ampliação do aporte financeiro para as fundações de amparo à pesquisa” consta do mais recente boletim divulgado pelo comitê interestadual. 

Para a próxima reunião virtual do Comitê Científico da UFPE, na próxima terça-feira (5), a pró-reitora Carol Leandro manifestou o desejo de convidar o presidente da Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco (Facepe), Fernando Jucá, a fim de discutirem possibilidade de suporte financeiro para iniciativas que a Universidade já tem elencadas na área de pesquisa. “Além dos insumos, estamos necessitando de recursos para financiar as bolsas para alunos envolvidos nas pesquisas”, afirmou o professor Valdir Balbino.

COMPOSIÇÃO – Além da diretora de Pós-Graduação da UFPE, Tereza Araújo, compõem o comitê os professores Alexandre Ronaldo da Maia de Farias (Centro de Ciências Jurídicas), Carolina Dantas de Figueiredo (Centro de Artes e Comunicação), Edvânia Torres Aguiar Gomes (Centro de Filosofia e Ciências Humanas), João Henrique da Costa Silva (Centro Acadêmico de Vitória), José Luiz de Amorim Ratton Júnior (Centro de Filosofia e Ciências Humanas), Luciana Rosa Marques (Centro de Educação), Paulo Roberto de Araújo Campos (Centro de Ciências Exatas e da Natureza), Reginaldo Gonçalves de Lima Neto (Centro de Ciências da Saúde), Ricardo Bastos Cavalcante Prudêncio (Centro de Informática), Rodrigo Pessoa Cavalcanti Lira (Centro de Ciências Médicas), Rodrigo Sampaio Lopes (Centro Acadêmico do Agreste), Rosa Maria Cortês de Lima (Centro de Ciências Sociais Aplicadas), Sávia Gavazza dos Santos Pessoa (Centro de Tecnologia e Geociências) e Valdir de Queiroz Balbino (Centro de Biociências).

Data da última modificação: 30/04/2020, 18:01