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Pesquisadora da UFPE lança amanhã (20) livro sobre protagonismo religioso no Brasil

Trabalho é fruto de pesquisa de doutorado em Comunicação de Carolina Falcão, que faz pós-doutorado em Direitos Humanos

A Livraria Jaqueira do Paço Alfândega recebe amanhã (20), às 18h, o lançamento do livro “Nem todo evangélico, nem todo cristão: entendendo o protagonismo religioso no Brasil”. Editado pela Annablume, o livro é fruto da pesquisa de doutorado de Carolina Falcão no Programa de Pós-Graduação em Comunicação (PPGCOM) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) entre os anos de 2016 e 2019. O trabalho faz uma análise sobre como se constituem e se reproduzem simbolicamente as figuras religiosas que se colocam fora do mainstream cristão nacional. “Há um senso comum muito forte sobre a figura dos evangélicos, como eles se comportam, votam ou defendem certos posicionamentos. Meu interesse era compreender como certas figuras cristãs se colocavam fora desse espectro e ainda assim reivindicavam uma subjetividade evangélica”, explica a autora, que hoje desenvolve pesquisa de pós-doutorado no Programa de Pós-Graduação em Direitos Humanos (PPGDH) da Universidade.

Durante os anos de pesquisa, Carolina percebeu como essas figuras, que não detinham um capital midiático tão expressivo como as típicas lideranças hegemônicas de pastores e padres celebridades, articulavam e disputavam sentidos fundamentais sobre a identidade cristã e evangélica. “É um trabalho de articular e disputar sentido: ao mesmo tempo em que esses atores reivindicam uma forma outra de ser evangélico/cristão (seja apoiando uma suposta agenda política progressista, seja se posicionando contra a eleição de Bolsonaro, em 2018), eles também postulam um lugar de visibilidade e credibilidade como figuras religiosas”, explica. A esse fenômeno, Carolina deu o nome de protagonismo religioso. Segundo a autora, a escolha do termo foi sendo construída ao longo da observação do corpus. Isso porque, muito embora a concepção de protagonismo remeta inevitavelmente à ideia de linha de frente, de destaque, há também uma conotação de agonia, que está semanticamente embutida na palavra. Protagonismo se constitui no radical agón, que em grego fala sobre agonia, sobre o embate, o drama, típico do ordenamento da vida pública da pólis. “Assim, falar de protagonismo é falar também de disputa, da disputa que se dá em destaque”, resume.

A delimitação do protagonismo religioso se dá a partir dessa interlocução entre destaque e agonia, visibilidade e disputa que o termo, em sua concepção grega, aponta. Como a autora reflete, o protagonismo religioso fala mais sobre uma contingência específica do que informa uma categoria fechada. “O protagonismo não se refere a uma forma dada de pertencimento religioso, mas sobre como certas condições propiciam que seja possível, por exemplo, ser evangélico e a favor do casamento entre pessoas do mesmo sexo, ou ser católica e apoiar a pauta do aborto”, resume. 

Nesse sentido, os estudos sobre comunicação são fundamentais para avançar o entendimento do termo. “De um modo geral, pensamos o poder das lideranças cristãs hegemônicas ora em termos de carisma, ora em termos de sua capacidade de reprodução simbólica. Na chave do protagonismo religioso, a visibilidade tem um papel central, até porque esses sujeitos não possuem o mesmo acesso ao ‘auditório carismático’ das lideranças convencionais”, situa. As plataformas digitais e sua lógica pautada numa certa ideia de subjetividade a afetação conduzem o protagonismo para outra forma de organização, descentralizada em ordenada em fluxos.

Segundo a autora, se o poder das lideranças convencionais (hegemônicas) é carismático e massivo, no protagonismo é preciso compreender as trocas no sentido de afetação que as mediações digitais proporcionam. Os textos do protagonismo religioso são essencialmente digitais: posts, vídeos de compartilhamento, webséries etc. Esses formatos, segundo a pesquisa, dão conta de três objetivos iniciais do protagonismo religioso: político, ético e afetivo. O objetivo político demarca o corte, a diferença incontornável que o protagonismo estabelece com os modelos hegemônicos de presença pública de figuras cristãs e evangélicas.

Nesse sentido, percebe-se a disputa pelo significante ‘evangélico’ e ‘cristão’ como o grande campo de batalha: o que é ser de fato cristão ou como nem todo evangélico se comporta de uma determinada forma são as principais questões políticas do protagonismo. No sentido ético, entra em cena o “como ser” a partir do agón: como ser evangélico e assumir tal posição, como ser católica e defender determinada causa? No sentido afetivo, o protagonismo se vale da visibilidade construída a partir das gramáticas afetivas da esperança, do amor, ou do medo. “Em cada uma dessas esferas, percebe-se como o sentido da diferença e da articulação são necessários. A pesquisa caminha justamente para compreender as negociações necessárias para que esses discursos circulem e sejam inteligíveis”, resume.

Data da última modificação: 19/04/2022, 16:51