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Pesquisador francês aborda em entrevista “O que a ciência antropológica tem a dizer sobre a pandemia?”

Entrevista foi traduzida pela professora Christine Dabat, a doutoranda Raíssa Orestes Carneiro (UFPE) e o professor da UFRPE José Marcelo Marques Filho

Em função da ligação com o momento atual, o site do grupo de pesquisa “Trabalho e Ambiente na história das sociedades açucareiras”, vinculado ao Programa de Pós-Graduação em História da UFPE (PPGH) e coordenado pelas professoras Christine Dabat e Maria do Socorro de Abreu e Lima, publicou entrevista que o professor Philippe Descola (EHESS e Collège de France) concedeu recentemente à Rádio France Culture, quando abordou o tema “O que a ciência antropológica tem a dizer sobre a pandemia?”.

Na explanação, concedida ao jornalista Guillaume Erner, o pesquisador francês defende que “cada povo reage a suas epidemias em função também de suas concepções de contágio e que, no presente caso (a pandemia do novo coronavirus), é que a noção de contágio levou algum tempo antes de se impor no mundo europeu, enquanto que ela foi entendida pelo que era de forma muito rápida no mundo ameríndio”. Segundo Descola, “esses povos compreenderam muito rapidamente, através da estrutura da população, que algumas doenças – a varíola, por exemplo – se transmitiam pelo contato e que uma forma de escapar era evitar o contato”.

Na entrevista, que foi traduzida pela professora Christine Dabat, em conjunto com a doutoranda Raíssa Orestes Carneiro (UFPE) e o doutor pela UFPE e professor da UFRPE José Marcelo Marques Ferreira Filho, o professor Philippe rebate a ideia de que há uma separação entre o ser humano e a natureza. “A natureza é uma concepção ocidental, um conceito que designa o conjunto dos não humanos e dos meios onde eles vivem e que os humanos se esforçam para conhecer e explora”. Para o pesquisadora, “Essa forma de ver as coisas é completamente singular, ela não existe em outros lugares e ela não existe, em particular, nas populações amazônicas, onde as relações com as plantas e os animais são uma relação pessoa-pessoa. Quer dizer que para os Achuar as plantas e os animais são pessoas, indivíduos?”.

PERFIL – Philippe Descola é professor emérito no Collège de France, titular da cadeira de Antropologia da Natureza de 2000 a 2019; desde 1976, ainda estudante, partiu para descobrir os Achuar, um povo Jivago situado no coração da Amazônia entre o Equador e o Peru. Foi nessa época que iniciou uma longa reflexão sobre o antropocentrismo, tentando trabalhar uma nova relação entre os humanos e seu ambiente.

O grupo de estudos “Trabalho e Ambiente na história das sociedades açucareiras” objetiva o estudo multidisciplinar da realidade social e ambiental que resultou da instalação da sacaricultura na Região Nordeste. Esse campo de pesquisa reúne docentes e discentes do Departamento de História da UFPE, discentes do Prodema (Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente), assim como parceiros e correspondentes no plano nacional e internacional.

Data da última modificação: 04/05/2020, 17:10