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Mestrando do Posnutri publica artigo sobre o “paradoxo da obesidade” em idosos hospitalizados

Para o estudo, foram acompanhados idosos internados no Hospital das Clínicas (HC)

Por Petra Pastl

O mestrando Jarson Pedro da Costa Pereira, do Programa de Pós-Graduação em Nutrição (Posnutri) da UFPE, que estuda a área de Nutrição em Saúde Pública, publicou o artigo “Abdominal obesity and hydration status as protective factors against mortality in older adults: A prospective study”, na revista Nutrition, avaliada com Qualis A1, de acordo com a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), e fator de impacto 4.4. Os autores disponibilizam um link para acesso gratuito do artigo na íntegra (disponível por 50 dias). 

O artigo versa sobre o estudo conduzido com idosos internados no Hospital das Clínicas (HC), no qual foi feita a associação entre diferentes técnicas antropométricas e de composição corporal para definir o estado de obesidade e investigar suas implicações clínicas nesses indivíduos. Os pacientes foram acompanhados por até 18 meses após a alta hospitalar, com o objetivo de observar diferentes desfechos, incluindo o tempo de internamento, a transferência para a Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) e a mortalidade. Os resultados da pesquisa apontam para o suposto “paradoxo da obesidade”, ou seja, foi identificado que o excesso de peso, avaliado por diversas definições, além de um maior estado de hidratação, possivelmente exerceram um efeito protetor, reduzindo o tempo de permanência hospitalar e a mortalidade entre os idosos estudados.

A equipe envolvida na pesquisa foi composta pelas orientadoras de Jarson, a professora Poliana Coelho Cabral, do Posnutri, e a nutricionista do HC Claudia Porto Sabino Pinho Ramiro e também pelo médico e professor Alcides da Silva Diniz, também do Posnutri.

Inicialmente, o objetivo foi identificar a prevalência de anormalidades na composição corporal, como baixa qualidade muscular, e síndromes geriátricas, como sarcopenia – perda de massa muscular, força e de função do músculo esquelético – e fragilidade, bem como investigar o impacto dessas condições na saúde e nos desfechos (finais dos tratamentos) de idosos hospitalizados. “Durante a análise da composição corporal e antropometria – estudo das dimensões do corpo para avaliar o estado nutricional e geral de saúde de uma pessoa –, descobrimos que critérios definidores de obesidade, como um índice de massa corporal (IMC) acima de 30, circunferência da cintura aumentada (obesidade abdominal/central) e alto percentual de gordura corporal, na verdade, exerceram um efeito protetor para os piores desfechos dessa população estudada, incluindo tempo de internamento prolongado e mortalidade em até 18 meses após a alta hospitalar”, explica o pesquisador Jarson Pereira.

Essa constatação se alinha com o fenômeno conhecido como “paradoxo da obesidade”, que sugere que, em alguns cenários, a obesidade pode ter um efeito protetor para a mortalidade. “Mas, a maioria dos estudos que abordam esse ‘paradoxo’ concentra-se apenas no IMC, que é um parâmetro limitado, pois não considera as variações de composição corporal (por exemplo, a massa muscular e a massa de gordura). Alguns autores até defendem que o efeito protetor da obesidade pelo IMC se dá pela maior quantidade de massa muscular. No entanto, em nosso estudo identificamos que o percentual de gordura corporal e obesidade central, de fato, exerceram esse efeito protetor”, afirma Jarson Pereira. “Portanto, nosso estudo representa uma nova contribuição para a ciência, pois foi além do IMC, investigando a relação entre a obesidade, por meio da composição corporal, o que amplia o entendimento desses fenômenos em idosos previamente hospitalizados”, complementa. Além disso, a descoberta de que níveis mais elevados de percentual de água no corpo estão associados a uma diminuição das chances de mortalidade é inovadora e relevante para a prática médica.

A pesquisa aponta para a complexidade da relação entre obesidade e saúde em diferentes fases da vida. Enquanto a obesidade é geralmente considerada um fator de risco para várias doenças crônicas e associada a uma maior mortalidade, essa pesquisa sugere que essa relação pode ser mais complexa em idosos hospitalizados.

O estudo enfatiza a importância de considerar múltiplos fatores ao avaliar a saúde de pacientes idosos, indo além do IMC como único indicador de obesidade. A atenção a outras medidas antropométricas e de composição corporal pode fornecer ‘insights’ mais precisos sobre a relação entre obesidade e saúde em idosos, auxiliando profissionais de saúde na tomada de decisões e no aconselhamento nutricional.

PUBLICAÇÃO - “A publicação em uma revista A1, com um alto fator de impacto, nos oferece uma valiosa oportunidade de divulgar nossos achados, que podem contribuir significativamente para a prática clínica e científica. A publicação em uma revista internacional de Qualis A1 reforça a capacidade da nossa instituição em realizar ciência de alta qualidade, mesmo diante de recursos limitados e outras restrições. Demonstra que somos capazes de contribuir para importantes debates no campo da saúde ao nos conectar com uma comunidade científica relevante”, pontua o mestrando Jarson Pereira.

Os pesquisadores envolvidos no estudo levantaram um debate relevante sobre um possível desequilíbrio na assistência em saúde da população estudada. Como profissionais de saúde, identificaram uma preocupante tendência em dar excessiva atenção ao manejo da obesidade, enquanto questões como baixo peso e desnutrição são, frequentemente, subdiagnosticadas e subtratadas. A pesquisa revelou que essas últimas condições representaram o cenário mais preocupante para a população geriátrica hospitalizada.

“Esperamos que os resultados deste estudo sirvam de inspiração para que outros pesquisadores, que enfrentam desafios similares aos nossos – como recursos limitados –, se empenhem em realizar ciência de qualidade, independentemente das dificuldades que possam encontrar ao longo do caminho. A busca contínua por uma pesquisa rigorosa e relevante é essencial para o avanço da ciência e para a melhoria da assistência e dos cuidados à saúde”, conclui o pesquisador.

Mais informações
Jarson Pedro da Costa Pereira

jarson.costa@ufpe.br

Data da última modificação: 15/08/2023, 15:52