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Departamento de Letras recebe estagiária francesa que cursa mestrado em Didática de Línguas, Culturas e Mídias

Marion teve a oportunidade de ver a maneira como o francês é ensinado no contexto em que ele se torna língua estrangeira

Por Eugênia Bezerra

A distância de cerca de 7 mil quilômetros que existe entre o Brasil e a França foi simbolicamente encurtada nos últimos meses em disciplinas da Licenciatura em Letras-Francês da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) pela presença em sala de aula da mestranda em Didática de Línguas, Culturas e Mídias Marion Nedelec na sala de aula – que se tornou a primeira estagiária estrangeira do Departamento de Letras. Por meio desta experiência orientada pela professora Rosiane Xypas, turmas do 2º, 3º e 4º períodos puderam contar com observações da estagiária francesa sobre questões que foram desde pontos específicos da gramática até aspectos mais gerais da cultura de seu país de origem. Marion faz mestrado na Université Catholique de L'Ouest, em Angers, na França.

Por outro lado, Marion teve a oportunidade de ver a maneira como o francês é ensinado no contexto em que ele se torna língua estrangeira. “A experiência me fez pensar muito sobre minha língua materna. Há coisas que são muito naturais para mim e era difícil explicar o porquê delas aos alunos. Então, tive que me colocar nesse lugar de estrangeiro, mais especificamente de brasileiros, e tentei compreender os erros que apareciam em relação às regras da língua francesa”, afirma.

Foto: Eugênia Bezerra

Professora Rosiane Xypas e mestranda Marion Nedelec comentam experiência 

“Notei que havia uma certa dificuldade com alguns sons. Também observei que os estudantes usavam muito o verbo ‘parler’ [falar], mas, no francês, em diversos contextos, devemos utilizar o verbo ‘dire’ [dizer]”, cita Marion, ao que a professora Rosiane completa: “Acho que isso acontece porque a gente aqui no Brasil usa muito o verbo ‘falar’ para várias situações e, quando as pessoas estão aprendendo, tendem a fazer quase um decalque da própria língua primeira, especialmente no caso do francês e do português do Brasil por serem línguas de origem latina. Na disciplina de oralidade, ela trabalhou com os estudantes as preposições, sobretudo quando utilizar ‘pour’ ou ‘par’, no caso, ‘por’ ou ‘pelo/pela’, porque notou que alguns se confundiam. Quando deveriam empregar ‘par’, diziam ‘pour’ ou faziam o contrário”.

“Profissionalmente, a primeira coisa que aprendi foi a ter um outro olhar para minha língua materna. Outra coisa foi ter a consciência de sempre me perguntar: ‘De onde veio esse erro, será que está ligado a algo da língua materna daquele aluno?’. E tem um terceiro pronto, sobre minha futura prática profissional: Que tipo de professora quero me tornar e como posso me tornar essa professora? Eu me fiz muitas perguntas sobre como posso melhorar sempre para atingir esse objetivo. Minha experiência aqui no Brasil foi muito enriquecedora e eu gostei muito”, avalia Marion.

Para cumprir o estágio obrigatório do mestrado, Marion pôde escolher, entre as disciplinas de Francês Língua Estrangeira (FLE) que Rosiane ministraria no semestre 2022.2, em quais ela cumpriria as 80 horas de observação e as 50 horas de prática determinadas pelo regulamento do estágio.

“Ela observou as disciplinas sobre literatura francesa da Idade Média e sobre didática da literatura, vale ressaltar que a UFPE é uma das únicas universidades do Brasil que tem disciplina específica sobre o ensinar a trabalhar o texto literário para francês e língua estrangeira. A disciplina em que Marion quis praticar foi a Metodologia de Ensino da Língua Francesa 1, de oralidade, o que foi bem interessante não apenas porque se trata de uma nativa falando a própria língua. Mas sobretudo para ensinar aos estudantes como interagir espontaneamente mesmo estando em um contexto de aprendizagem. Os estudantes ficaram muito interessados”, relembra Rosiane.

VISITA - A professora recordou também de uma experiência que os discentes tiveram fora da sala de aula, na companhia dela e de Marion. Durante a disciplina Literatura de Língua Francesa I – século XVI, na qual se estuda obras dos autores mais representativos da época na França, o grupo fez uma visita ao Instituto Ricardo Brennand (IRB), no qual há uma construção inspirada nos castelos medievais e de cujo acervo fazem parte alguns itens do período.

“A Idade Média europeia é tão longe de nós aqui no Brasil… Acho que foi uma experiência bem interessante, ficou um pouco mais materializada essa época em cada um deles. E Marion mora em Angers, onde tem um castelo medieval. Eu sempre busco ensinar sobre essa literatura assim, fazendo a ponte entre o passado e a atualidade. Pudemos comparar e refletir sobre a época atual, falamos sobre a pandemia da covid-19 e as ‘pestes’ que dizimaram a Europa, fora outras coisas que a gente vê hoje”, cita Rosiane.

“Para mim foi bem interessante a experiência de Marion nas observações de minhas aulas. Até então, eu nunca tinha recebido ninguém, nem daqui [do Brasil] mesmo. Geralmente, nossos estudantes observam as aulas de francês do Colégio de Aplicação da UFPE (CAp). Acho que é uma experiência muito rica tanto para mim enquanto professora quanto para o estudante que vem de fora”, completa Rosiane, que também passou pela experiência de fazer parte de sua formação acadêmica em outro país – a professora fez mestrado e doutorado na França, onde viveu por 11 anos e meio.

ESTÁGIO – O estágio da francesa Marion Nedelec na UFPE começou a ser delineado quando a professora Rosiane Xypas entrou em contato com o ex-orientador dela no mestrado em Didática de Francês na Université Catholique de L'Ouest para falar sobre a possibilidade de receber estagiários de Francês Língua Estrangeira (FLE). O professor Yves Loiseau, então, repassou as informações para os estudantes da turma do Master Français Langue Étrangère.

Com o interesse demonstrando pela mestranda Marion, a professora Rosiane procurou a Diretoria de Relações Internacionais da UFPE (DRI) para iniciar os trâmites necessários. Outros docentes da Universidade podem trilhar o mesmo caminho para que mais estudantes venham estagiar nos departamentos.

“O docente poderá buscar informações junto à DRI ou a partir dos acordos existentes do seu departamento/centro ou mesmo as redes de cooperação estabelecidas na área de conhecimento”, explica o diretor de Relações Internacionais da UFPE, Madson Góis Diniz.

“A DRI está normatizando as diretrizes institucionais para recebimento de discentes estrangeiros com vistas à realização de estágio e também a possibilidade de enviar nossos alunos para estágios no exterior. Os cursos da área de saúde, em especial Medicina, já têm alguma experiência nesse sentido no período do internato”, afirma Madson, que detalha: “Estamos normatizando e avaliando essa demanda como mais uma etapa importante do processo de internacionalização. O interesse tem sido crescente especialmente de discentes oriundos dos Brics e América Latina”.

Estudantes do 8º período do curso de Licenciatura Letras-Francês falam sobre a experiência de ter aulas com Marion Nedelec

“Ter Marion conosco foi algo bem diferente do que estamos acostumados. Conhecer o ponto de vista dela sobre os momentos da literatura da França e sua história foi muito valioso. Gostaria de ter essa oportunidade ou, pelo menos, dar essa chance a novos alunos do curso de ter contato com um aluno francófono que está aprendendo o FLE. Ver a nós mesmos no outro nos ajuda a compreender melhor que o mundo é (ou deveria ser) construído sobre pontes e não sobre muros.”
Charles Cavalcanti

“Estudar parte da literatura da Idade Média com uma francesa da Bretanha foi uma experiência única. Pudemos entrar em contato com esse olhar sobre questões que talvez ela tenha descoberto na escola e redescoberto conosco na disciplina, enquanto que para nós ou para grande parte de nós eram novidades. Os comentários de Marion sempre foram muito pertinentes para as discussões que tivemos em sala de aula”.
Lívia Silva

“A experiência de ter uma estagiária durante as aulas de Literatura foi muito boa. Acredito que nós, estudantes de FLE, devemos ter contato com pessoas que falam esse idioma [francês] desde o nascimento, ou seja, nativas. Durante o aprendizado, nós aprendemos mais sobre a cultura dela e Marion foi muito didática e disponível”.
Maria Luiza

“Achei ótima a participação dela. Foi muito enriquecedor acompanhar as leituras que ela fazia e perceber a sonoridade e fluência das palavras e das frases. Ela foi muito gentil com a turma dentro e fora da sala, foi uma experiência incrível!”.
Maria Françuelly

Mais informações
Professora Rosiane Xypas

rosiane.mariasilva@ufpe.br 

Diretoria de Relações Internacionais da UFPE
(81) 2126.8006/7021

secci@ufpe.br

Data da última modificação: 06/06/2023, 17:32