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Nossos grandes educadores

Por Gilson Edmar, vice-reitor da UFPE
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A Universidade Federal de Pernambuco, ao longo de toda a sua existência, sempre teve e ainda tem em seus quadros grandes mestres da educação. Uma educação que ultrapassa os limites do câmpus. Entretanto, a educação não deve ter apenas um sentido único, acadêmico, mas é fundamental tirar do povo os ensinamentos oriundos das suas culturas, dos seus hábitos, da sua história. Cresce a importância da educação popular, como fonte de pesquisa e prática.
 
Emergem do nosso pensamento nomes que transformaram a educação em nossa universidade e em nosso País. Entre tantos mestres, fazemos uma homenagem a três deles, cujo legado intelectual tem um elo que os une: Paulo Freire, Paulo Rosas e João Francisco de Souza.
 
Paulo Freire foi pioneiro na educação popular, na qual o homem deveria também ter conhecimento da sua situação social e dos aspectos culturais que o cerca. Sempre considerou a educação como um ato político, defendendo que o educador deva se despojar do academicismo, o que ele chamou de verticabilidade pedagógica, para debater estes problemas com o homem. Participou do Movimento de Cultura Popular e criou o método de alfabetização de adultos como forma de mudanças sociais e políticas, anseios da sociedade e dele próprio. Tornou-se o pedagogo do oprimido, pois partia do saber popular para uma proposta de superação das condições sociais da população. O Centro Paulo Freire na UFPE cumpre o papel de difundir o seu pensamento, sempre vivo e atual. Há pouco organizou o II Tríduo Paulo Freire, para fazer uma releitura do seu documento sobre educação de adultos, que está completando 50 anos da sua apresentação.
 
Paulo Rosas, discípulo e seguidor do mestre Freire, atuou no ensino e na pesquisa nas áreas da psicologia e educação. Na sua visão, a educação sempre deveria ser praticada como um instrumento de desenvolvimento humano e inclusão social. Foi um grande divulgador dos princípios educacionais que nortearam os pensamentos freireano. Foi o criador do Instituto de Ciências do Homem, embrião do Centro de Filosofia e Ciências Humanas da UFPE, e do Centro Paulo Freire. Deixou para nós uma vasta produção científica e um exemplo de homem e educador. A professora Eliete Santiago, vice-diretora do Centro de Educação da UFPE, assim se expressou, quando da sua morte: "Paulo Rosas representou a reencarnação da ética, do conceito de humanização como fator de liberdade do sujeito, não tendo sido só um símbolo, mas também a tradução da esperança". É esta a esperança que permanece viva em todos nós e, especialmente, na atuação de Argentina Rosas, sua esposa e seguidora.
 
João Francisco de Souza foi moldado intelectualmente no exemplo dos dois "Paulos" e socialmente no exemplo de dom Hélder Câmara. Atuou na educação popular, tendo sido respeitado e consultado no Brasil, América Latina e Europa. Sua atividade profissional era direcionada para a educação de jovens e de adultos, junto aos movimentos sociais, como forma de melhorar a qualidade de vida do homem. Sempre atuou como "propositor e como provocador, mas especialmente como semeador" no dizer do professor Alcides Tedesco, presidente do Centro Paulo Freire.
 
Reconhecido como pesquisador de excelência na área da educação, João Francisco escreveu vários livros e artigos em revistas especializadas. Foi secretário de Educação de Olinda, na gestão de Germano Coelho, e diretor do Centro de Educação da UFPE, tendo sido um dos mais atuantes membros do Fórum dos Diretores, movimento que promoveu uma mudança política da nossa universidade.
 
João Francisco, uma pessoa alegre e comunicativa, em plena atividade científica, foi vítima da violência que se alastra em nosso País. Perdemos mais um grande mestre, que iniciou suas atividades na educação popular não escolarizada, galgou todas as etapas da vida de um educador até o magistério superior, para também educar os educadores. O seu trabalho, reconhecido por todos, mereceu um destaque, quando Paulo Freire dedicou seu livro Pedagogia da autonomia a João Francisco. Deixou uma grande lição: a educação como mudança social.
 
O Centro de Educação da UFPE, celeiro de grandes mestres, hoje dirigido pelo professor José Batista Neto, vem desempenhando esse papel, com competência e compromisso, por meio das pesquisas e da prática educacional. É louvável que essa unidade acadêmica saiba cultuar o seu passado, por meio de Paulo Freire, Paulo Rosas e João Francisco de Souza, sem deixar de olhar o futuro como uma utopia a ser atingida: a educação para todos.
 
Publicado no Jornal do Commercio, em 27.05.2008
Data da última modificação: 31/10/2016, 11:04

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