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Construir alianças

Publicado no Jornal do Commercio, no dia 28 de maio de 2019

Anísio Brasileiro

A sociedade brasileira foi surpreendida, recentemente, com o anúncio de cortes de cerca de R$ 2,2 bilhões do orçamento das universidades públicas federais. As reações foram imediatas, a exemplo das manifestações de rua em mais de 200 cidades brasileiras, com predominância de jovens estudantes. Cabe aqui a pergunta: quem perde com esses cortes que inviabilizam o segundo semestre nas universidades brasileiras, inclusive a UFPE? Perde a sociedade como um todo e, sobretudo, o povo pobre que através de políticas públicas voltadas para a inclusão teve acesso à educação e vê esse direito hoje sendo colocado em risco. Perde também a classe média, que cultiva a ascensão social de seus filhos por meio do conhecimento. Eles estudam em excelentes colégios, como, por exemplo, em Boa Viagem ou nos bairros típicos de classe média que margeiam o rio Capibaribe. Sem dúvida escolas renomadas, pelo nível de exigência que impõem aos alunos. Nelas, todos almejam ingressar na universidade pública.

Mas com o estrangulamento das universidades públicas, perdem as empresas públicas e privadas, sejam elas estaduais, regionais ou de abrangência nacional. Porque, sem capital humano, sem profissionais competentes em todas as áreas do conhecimento, não conseguirão sobreviver à competição internacional que caracteriza a economia globalizada. O que resultará da desestruturação das nossas empresas? Desemprego, pura e simplesmente. Éoque já estamos vivendo. Basta observar o quadro dramático no qual – só para dar um exemplo – jovens em plena idade de formação e de preparação ao mundo do trabalho passam horas vendendo água mineral a R$ 1,50 na Praça da Jaqueira. Outro exemplo, tantos engenheiros trabalhando como motoristas de aplicativos de oferta privada de mobilidade. E o país precisando tanto de suas competências, de sua força de trabalho.

A sociedade está reagindo. O essencial é nos juntarmos. Construirmos uma aliança em torno de um projeto que poderia ser sintetizado num lema: “Em defesa de políticas públicas em favor da educação brasileira”. A educação pública há de ser gratuita, para oportunizar a todos o seu acesso. E as instituições privadas também fazem parte desta luta, pois reúnem a maioria dos jovens em todos os níveis de formação. Para além de diferenças conceituais, é preciso defender um projeto de soberania nacional que valorize a nossa diversidade e no qual os brasileiros possam encontrar trabalho em seu próprio país.

*Anísio Brasileiro é reitor da UFPE

Data da última modificação: 09/07/2019, 10:29

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