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Um ano centenário

Por Gilson Edmar – médico e vice-reitor da UFPE
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Este ano, celebra-se o centenário de pessoas e fatos que marcaram a vida dos recifenses e dos pernambucanos. Foram pessoas que deram exemplo com seu trabalho, com sua produção intelectual, científica e humanística, como verdadeiros formadores de opinião.

Comecemos com dom Helder Camara, o querido Dom da Paz, cuja vida foi dedicada a se doar aos pobres, bradando contra a violência e as injustiças e lutando por um mundo mais humano, igualitário, sem diferenças sociais. Sua trajetória como sacerdote e bispo, por onde passou, é um exemplo de dedicação ao próximo. Os seus pensamentos expressos em poemas, escritos, discursos ou homílias ultrapassaram fronteiras, tornando-o um cidadão do mundo. Mas Recife e Olinda o reverenciam como nosso eterno arcebispo. Tive o privilégio de ouvi-lo nas missas da Igreja das Fronteiras e ele foi o celebrante da Missa do Cadáver Desconhecido da minha turma de médicos de 1966, da Universidade Federal de Pernambuco.

A nossa Faculdade de Medicina da UFPE está comemorando o centenário de dois dos seus grandes mestres: os professores Aluísio Bezerra Coutinho e José Lucena. Bezerra Coutinho, professor de patologia geral, era o terror dos estudantes, fama obtida mais pela lenda que foi criada em torno dele. Foi precursor de muito que se faz hoje na medicina e outras ciências. Ensinou várias gerações a pensar e a raciocinar, princípios indispensáveis na prática médica.

José Lucena, professor de psiquiatria, deu continuidade à obra de Ulisses Pernambucano, trazendo para seus discípulos as bases da psiquiatria social. Discreto, porém de uma cultura invejável, era consultado pelos psiquiatras, mesmo depois de sua aposentadoria. Deixou um legado científico importante, característica dos grandes mestres.
A UFPE e o mundo literário pernambucano celebram ainda o centenário do jornalista, editor, político e professor Nilo Pereira. Pai do nosso colega Geraldo Pereira, que cuida de preservar muito bem a sua memória. Nilo Pereira deixou um acervo intelectual importante. O convívio com outros intelectuais da época e a vivência de seu momento político fazem com que seus livros, crônicas ou outros escritos nos transportem àquela época, relatando a história cultural e política da nossa cidade e do nosso Estado.

A comunidade artística de Pernambuco se volta para o centenário de Vitalino, que projetou Caruaru ao mundo, tendo sido um dos seus mais ilustres filhos. Foi pioneiro, através da sua arte em barro, em mostrar os habitantes do nosso interior, em suas atividades ou nas suas formas de lazer, perpetuado no Alto do Moura pelos seus discípulos.

O Recife recebeu na década de 30, para cuidar de seus jardins e praças, o paisagista Burle Marx, que também faz seu centenário este ano. Criou espaços com uma beleza que ainda hoje deslumbra os habitantes desta cidade, como as Praças de Casa Forte, República, antes chamada Campo das Princesas, do Internacional, de Dois Irmãos. A professora Ana Rita Sá Carneiro, do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da UFPE, relata, em seu livro, todos os jardins de Burle Marx, cuja leitura é obrigatória para aqueles que desejem conhecer esta obra paisagística recifense.

Na área médica, dois fatos marcantes enriqueceram este 2009. Um deles é o centenário da descoberta da doença Chagas, por Carlos Chagas, que pela primeira vez no mundo relatou o agente causador, o Tripanosoma Cruzi (em homenagem a Oswaldo Cruz), o vetor (inseto barbeiro) e a sua sintomatologia. Já a Sociedade de Medicina de Pernambuco organizou, há 100 anos, o primeiro Congresso Médico de Pernambuco, presidido por Otávio de Freitas, que será motivo de grandes comemorações este ano pelo Instituto da História da Medicina e durante o Congresso Médico Estadual.

Por fim, com grande emoção, registro o centenário do meu pai, Júlio de Barros, um recifense que exerceu a sua profissão como contador da Usina Matary, como membro da Junta Comercial de Estado e com uma grande atuação associativa, como 2º presidente do Conselho Regional da Contabilidade, de 1955 a 1971, reeleito para vários mandatos. O CRC-PE fez uma homenagem, no dia do contabilista, àquele que consolidou a atuação do Conselho, adquiriu sua primeira sede própria, foi um dos fundadores da Casa do Contabilista e membro da Academia Pernambucana de Ciências Contábeis. No dia 5 de junho, data do seu aniversário, celebraremos a vida, através da sua história de cidadão, profissional, esposo, pai e exemplo para toda a família e para os amigos.
 
Publicado na edição do dia 28 de maior de 2009 do Jornal do Commercio
Data da última modificação: 31/10/2016, 10:41

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