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O Projeto Vitória

Por Gilson Edmar Gonçalves e Silva e Paulo Roberto de Santana

Em janeiro de 1976, foram implantados no Brasil os dois primeiros programas de residência para formação de médicos generalistas, um no Rio Grande do Sul e outro em Vitória de Santo Antão. Ambos surgiram antes da regulamentação que instituiu os programas de residência médica no Brasil. Segundo o doutro Guilherme Abath, protagonista do Projeto Vitória, da UFPE, a decisão de interiorizar a formação deste profissional se deu por não ser o Hospital das Clínicas local indicado para a formação do médico geral ou de família, na graduação ou pós-graduação.

Afirmava ainda que o Projeto Vitória tinha como objetivo formar o médico através de uma prática interdisciplinar e interprofissional, de maneira que todos os profissionais do setor saúde atuassem de forma harmônica e sinérgica, permitindo assim uma formação social e humanista mais completa dos profissionais de saúde da família. As atividades em assistência primária incluíam uma rede de 13 postos de saúde, denominados de assistência elementar, implantados em Vitória, nas áreas urbana e rural e nos municípios circunvizinhos: Pombos, Chã Grande, Glória do Goitá e Feira Nova.

A formação em atenção secundária ocorria no Hospital João Murilo (HJM), onde a UFPE disponibilizava em torno de 110 profissionais: médicos pediatras, clínicos, ginecologistas/obstetras e cirurgiões, além de enfermeiros, nutricionistas, fisioterapeutas, odontólogos, psicólogos, farmacêuticos, biomédicos, assistentes sociais e pessoal técnico-administrativo, todos com o papel de preceptores dos residentes.

Nessa época, o Hospital João Murilo chegou a ter uma UTI. O HJM, pelos serviços de excelência que prestava aos usuários, adquiriu reconhecimento junto à população como a maior referência de atendimento hospitalar, atendendo 90% das autorizações de internamento hospitalar da região. Numa rede de atenção primária articulada, ocorriam as atividades de educação para a saúde e saúde escolar, estudo de remédios caseiros, reuniões com grupos de hipertensos, diabéticos, saúde mental e os clubes de mães.

O corpo técnico do HJM ainda era responsável pelos programas de imunização, de hanseníase, de tuberculose e as atividades de vigilância epidemiológica, inclusive a busca ativa das doenças de notificação compulsória, não só em Vitória assim como na microrregião dos municípios já referidos. Na época, o Hospital mantinha as clínicas básicas: pediatria, clínica médica, maternidade e cirurgia ambulatorial e de médio porte, além dos serviços de emergência para adultos, obstetrícia, pediatria e traumato-ortopedia.

Havia também, um laboratório para análises, em sistema de plantões, assim como atendimento diário em nutrição, fisioterapia, odontologia e serviço social. Em 1984, todos estes serviços foram desativados por motivos políticos, para viabilizar a rede privada de saúde, que se sentia preterida pela população, pois esta preferia os serviços de qualidade oferecidos pela UFPE/Projeto Vitória.

Hoje, com a chegada do Câmpus Avançado da UFPE, o Centro Acadêmico de Vitória (CAV) necessita, para a formação dos novos profissionais de saúde, que o HJM reassuma o seu papel. Acreditamos na determinação do governador Eduardo Campos, representados pela atual direção da Secretaria de Saúde e do novo diretor do hospital, João Murilo, no sentido de torná-lo um hospital-escola, comprometido com a atenção à saúde de qualidade e com a formação de uma geração de profissionais, capazes de contribuir com a saúde coletiva e, consequentemente, com o Sistema Único de Saúde (SUS).

* Gilson Edmar e Paulo Roberto são médicos

Artigo publicado no Jornal do Commercio de hoje (29)
Data da última modificação: 27/10/2016, 14:28

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