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HC e as ciências da saúde

 
A reforma administrativa das universidades brasileiras, em 1975, criou os departamentos e os agrupou em centros acadêmicos, com características temáticas. Assim, surgiu na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) o Centro de Ciências da Saúde (CCS), reunindo os cursos, outrora faculdades, da área de saúde. Os defensores desse sistema diziam que o objetivo era ensinar aos estudantes a conviver juntos, criando um modelo de equipe de saúde, a ser reproduzido posteriormente na prática profissional.
 
Entretanto, ao longo destes 30 anos, isto não ocorreu do modo como foi concebido. O curso básico é dado para todos, pela equipe do Centro de Ciências Biológicas (CCB), mas em turmas separadas por curso. Só após esta primeira etapa os alunos passam a ser orientados pelos seus coordenadores. Isso também provoca uma grande frustração entre os estudantes, pois não se sentem alunos do curso para o qual se submeteram a um vestibular.
 
As diretrizes curriculares na área da Saúde apontam para uma integração e para a inserção precoce do aluno no sistema de saúde, contrário, portanto, ao antigo modelo. Os currículos estão sendo adaptados a este novo conceito. Entretanto, são enormes as dificuldades na gestão acadêmica dos cursos, especialmente aqueles que têm mais de um departamento. É importante para a área da saúde que haja um fortalecimento da identidade dos seus cursos, através da recriação das faculdades ou escolas. Isso permitirá que elas exerçam seu papel de verdadeira unidade acadêmica, trazendo facilidades na execução do planejamento pedagógico e, com isso, uma melhoria na formação dos novos profissionais.
 
Esse fato não impede que o aprendizado dos estudantes seja realizado em uma equipe de saúde. O trabalho coletivo deve ser sempre incentivado precocemente para trazer benefícios no futuro. É este o modelo de treinamento que eles já fazem no SUS.
 
O Hospital das Clínicas (HC) era subordinado à Faculdade de Medicina. Passou, posteriormente, a ser órgão suplementar da UFPE, local destinado ao ensino do curso profissional ou clínico da área da saúde. Atualmente, os hospitais universitários são inseridos no sistema de saúde como unidade da alta complexidade e, no máximo, da média complexidade. O atendimento básico deve ser feito pelo sistema de saúde, através do Programa de Saúde da Família e dos postos de saúde, estes também atuando no atendimento secundário.
 
O HC deve estar integrado ao plano de desenvolvimento institucional da Universidade, possibilitando a prática profissional e a capacitação dos estudantes das diversas áreas da saúde, nas etapas mais avançadas dos cursos, na residência ou nos cursos de pós-graduação. Por essa razão, os hospitais de ensino devem ter seu plano de ação integrado à política pedagógica de cada curso, ao planejamento acadêmico do CCS e ao projeto de saúde da UFPE
 
Havendo um maior comprometimento da comunidade com as ações do HC, os seus dirigentes poderiam ser escolhidos, em eleição direta, pelos docentes, pelos estudantes e pelos servidores, sejam técnicos ou administrativos, que lá atuam. Outro fator importante e imprescindível é o sistema de financiamento dos hospitais das instituições federais de ensino superior, que deve ser revisto, para que não venha a ser fator impeditivo à sua atuação. Para isso, é imprescindível ter dotações orçamentárias mensais independentes do pagamento por procedimento realizado. Como órgão público, também sofre pela carência de pessoal especializado e pelas dificuldades em supri-la através de concursos públicos, nem sempre autorizados. Urge uma discussão para uma mudança desse modelo.
 
Ainda outra grande dificuldade, oriunda das amarras burocráticas, é a forma de compra dos medicamentos, que deve ser modernizada e agilizada, para não faltar os produtos nas enfermarias. A doença não espera prazos de licitações. Por vezes a urgência nas ações é necessária à manutenção da vida do paciente, mas os dirigentes encontram dificuldades em agir com a rapidez que o momento exige.
 
Com essas e outras mudanças necessárias, o Hospital das Clínicas pode exercer o seu importante papel de elo entre a academia e a sociedade, através da prestação de um serviço de saúde diferenciado à nossa comunidade universitária e à nossa população.
 
Gilson Edmar Gonçalves e Silva
Vice-reitor da UFPE
E-mail:
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Publicado no Jornal do Commercio, em 02.01.2007
Data da última modificação: 31/10/2016, 11:25

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