Artigos Artigos

Voltar

A neurologia pernambucana

Vice-reitor Gilson Edmar
 
O nosso Estado e as cidades irmãs de Olinda e Recife são sedes, de 19 a 23 agosto, do XXII Congresso Brasileiro de Neurologia. Não somos um simples local do evento, escolhido ao acaso entre outros candidatos. A vinda do congresso para cá representa o reconhecimento nacional pelo muito que a escola neurológica de Pernambuco fez pelas neurociências em nosso País.
 
No início, a especialidade era ligada à psiquiatria e aqueles que a exerciam eram denominados neuropsiquiatras. Tornou-se uma especialidade independente pela influência da cátedra de neurologia da Faculdade de Medicina da UFPE, a partir de Jarbas Pernambucano. Com sua liderança, conseguiu aglutinar grandes nomes da medicina da nossa terra e dos Estados vizinhos.
 
Foram pioneiros dessa época José Alberto Maia, Luiz Ataíde, Alcides Codeceira Júnior e Wilson Farias da Silva. Mas a área clínica, ao se desenvolver, necessitava ampliar o seu campo de investigação. Assim, surgiu a neurocirurgia, com Manoel Caetano de Barros, sucessor de Jarbas Pernambucano, na cátedra de neurologia, a neuropediatria, com José Grinberg, a liquorologia, com Alcides Benicio, a eletrencefalografia, com Salustiano Gomes Lins e Arnaldo DiLascio, e a neuropatologia, com Guilherme Abath. Mais adiante, cresceu a área da neuroradiologia, com Glerystane Holanda. Tudo isso se passou no Hospital Pedro II, na Enfermaria São Miguel, onde também foi criada a Residência Médica em Neurologia. Com a aposentadoria de Manoel Caetano de Barros, fez concurso para professor titular Wilson Farias da Silva, já nas dependências do Hospital das Clínicas, da Cidade Universitária.
 
Atualmente, exige-se cada vez mais titulação dos professores das universidades brasileiras ou daqueles que lá pretendem exercer a docência médica. Por iniciativa nossa, com a ajuda inestimável de Everton Botelho Sougey, que me sucedeu posteriormente na coordenação, foi criado o Curso de Mestrado em Neuropsiquiatria, com uma concepção moderna do que se chama hoje neuropsiquiatria. O curso foi crescendo na pontuação da Capes até se transformar em Programa de Pós-Graduação, com níveis de Mestrado e Doutorado, já na tutela de Marcelo Valença, seu atual coordenador.
 
Um grupo de neurologistas – livre-docentes da UFPE – criou a neurologia da Faculdade de Ciências Médicas, na qual seus sucessores vêm exercendo as atividades no Hospital Oswaldo Cruz, com zelo e determinação na formação de novos neurologistas para o nosso Estado. Da mesma maneira, outros grupos formados ainda no Hospital Pedro II criaram o Serviço de Neurologia do Hospital da Restauração e o do Hospital Neuro, ambos órgãos formadores de médicos dessa nobre especialidade.
 
Essa história fez com que o Congresso Brasileiro de Neurologia viesse para cá em três ocasiões: em 1968, presidido pelos professores Manoel Caetano, em 1982, pelo professor Luiz Ataíde, e este ano, tendo como comissão gestora três representantes de cada ramo da neurologia pernambucana. O da UFPE sou eu, o do Hospital da Restauração, Maria Lúcia Brito Ferreira e o da Faculdade de Ciências Médica, Maria Eunice V. Xavier Coelho.
 
Este evento trouxe o novo, moderno e promissor na neurologia, através da participação dos grandes nomes da especialidade nacional e mundial, tendo como ponto alto as discussões sobre a compreensão das diferentes patologias e seu tratamento, especialmente no que se refere à utilização das células-tronco e terapia gênica.
 
Decidimos prestar uma homenagem a um dos seus pioneiros e que representasse toda essa trajetória. Escolhemos Alcides Codeceira Júnior para presidente de honra do XXII Congresso Brasileiro de Neurologia, não só pelo seu mérito pessoal no exercício desta especialidade médica, como também pela coerência na sua vida profissional. Na vertente histórica, é filho de um dos fundadores da Faculdade de Medicina da UFPE, na vertente do hoje, por ter sido responsável pela formação de mais de uma geração de neurologistas em atividade, na vertente do futuro, pela replicação dos seus ensinamentos, por cada um de nós, seus “filhos”, aos que exercerão a Neurologia no século 21.
 
Contato
Professor Gilson Edmar
ge@ufpe.br
 
Artigo publicado no Jornal do Commercio em 22.08.06
Data da última modificação: 31/10/2016, 11:29

Portlets aninhado Portlets aninhado