Em um mercado de trabalho em constante transformação, impulsionada pela aceleração tecnológica e novas dinâmicas sociais, a formação profissional vai muito além do domínio técnico e demanda indivíduos com capacidade de liderar, inovar e solucionar problemas de forma criativa. É nesse contexto que a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), como agente de desenvolvimento social, assume a responsabilidade de preparar seus estudantes para essa realidade. A extensão universitária se revela como um espaço prolífico para o cultivar de tais competências, e duas iniciativas destacam-se por suas abordagens: os projetos Líder Administração: Formação de liderança para os estudantes de administração e INOVE.Aí: Desafios de Inovação Aberta para formar líderes atentos às demandas locais.

O primeiro, coordenado por Taciana de Barros Jerônimo, professora do Departamento de Ciências Administrativas da UFPE, teve como objetivo norteador apoiar o desenvolvimento das habilidades de liderança de seus participantes, alunos do curso de Administração, além de criar um ambiente propício para a experimentação e aplicação do conhecimento técnico aprendido em sala de aula. A ação realizou atividades focadas na vivência prática da liderança, ocorridas nas salas de aula do Centro de Ciências Sociais Aplicadas (CCSA) e em visitas técnicas a instituições externas, visando conhecer as lideranças das empresas e como elas são formadas. 

Essas vivências, como a professora Taciana elucida, trouxeram benefícios para a formação dos estudantes do curso de Administração, visto que a proposta surgiu para preencher uma lacuna sentida pelos próprios discentes: “o projeto começou com uma inquietude dos alunos do curso de Administração em estudar sobre os conceitos de liderança, mas nunca terem a capacidade de atuar ou de praticar a liderança de fato. Aquele velho dilema que o conhecimento fica somente na sala de aula, nunca sendo praticado. Ao participarem de visitas técnicas, os alunos tiveram a capacidade de promover o desenvolvimento de competências de liderança (comunicação, gestão do tempo, networking), alinhando suas experiências acadêmicas, interesses profissionais e metas pessoais com os desafios e oportunidades do curso de Administração. Foi um feedback positivo, pois alguns deles não conheciam as empresas visitadas, Pluvi e o Engenho Sanhaçu.”

 

(Equipe do projeto, 2025)

Integrantes da equipe executora

 

Além disso, uma das principais frentes da ação extensionista consistiu em uma consultoria organizacional, que conferiu aos alunos a oportunidade de aplicar diretamente, em suas próprias empresas ou em negócios familiares, os conhecimentos adquiridos na graduação, promovendo uma integração efetiva entre teoria e prática. Essa imersão permitiu que os estudantes analisassem contextos reais, identificassem problemas e propusessem soluções estratégicas com o uso de ferramentas de gestão.

Conforme detalha a coordenadora: “a consultoria possibilitou uma abordagem personalizada, na qual cada estudante analisou aspectos de sua organização — como estrutura, processos, liderança, marketing ou finanças. Essa experiência fortaleceu o desenvolvimento de competências em diagnóstico organizacional, tomada de decisão estratégica, e liderança aplicada a contextos reais. A vivência prática, aliada ao acompanhamento personalizado da mentoria, proporcionou um ambiente de aprendizado significativo, no qual os estudantes se sentiram mais engajados e comprometidos.”

De maneira complementar, o projeto realizou uma mesa-redonda sobre liderança e empreendedorismo, que ocorreu em 21 de março deste ano e contou com a presença dos estudantes Gabriel Braz e Nathalia Lira, fundadores da Naga.IA, empresa referência em inteligência artificial e automações, e o egresso do curso de Administração Gian Cintra, fundador da Dreams Intercâmbios e referência no setor educacional, a fim de que estes compartilhassem suas trajetórias e experiências.

Em outra frente, o projeto INOVE.AÍ situa-se como uma iniciativa pioneira que busca propor, aos desafios reais de Pernambuco, soluções criativas e sustentáveis, sendo coordenado pelo docente Manoel Guedes Alcoforado Neto, doutor em Design e professor associado do curso de Design do Centro Acadêmico do Agreste (CAA) da UFPE, e o professor Nelson Fernandes, do Núcleo de Gestão do CAA. Ao total, a ação conta com uma equipe de dez mentores juniores e cinco mentores seniores e é conduzida em parceria com um robusto ecossistema de inovação, que inclui instituições como o Porto Digital, a Universidade de Pernambuco (UPE), o SENAI e o SEBRAE-PE. Aprovado no edital 26/2024 - Jornada REPE, da FACEPE/SECTI, o INOVE.AÍ é financiado pelo Governo do Estado, recurso que viabilizou a aquisição de equipamentos de ponta, a contratação de consultores e a concessão de bolsas aos participantes selecionados.

 

(Equipe do projeto, 2025)

Logo do projeto INOVE.Aí

 

Para além dos professores e profissionais das instituições supracitadas, a equipe executora também é composta por alunos de diversas instituições a nível de ensino médio, técnico e superior, moradores de diferentes municípios do interior do estado, os quais são selecionados através de edital e chamada pública divulgados em canais oficiais e pelo Instagram da Jornada INOVE.AÍ. O projeto é realizado por meio de encontros presenciais e remotos, no que os encontros presenciais ocorrem nos laboratórios multifuncionais do Núcleo de Gestão do CAA, no Laboratório de Computação Gráfica (LABCG) do curso de Design e no Armazém da Criatividade do Porto Digital. Quanto às mentorias e consultorias, estas ocorrem primariamente no ambiente da plataforma virtual do projeto e também em encontros presenciais no CAA/UFPE e Porto Digital.

 

(Equipe do projeto, 2025)

Membros da equipe executora

 

A ação está estruturada em duas jornadas de inovação de seis meses cada, divididas nas fases de maratona, ideação e prototipação respectivamente. As jornadas utilizam metodologias ativas de Aprendizagem Baseada em Problemas (PBL) e Aprendizagem Baseada em Projetos (CLB), enquadrando-se no modelo de Inovação Aberta, em que o governo e as empresas lançam mão de problemas reais, os quais os squads, grupos multidisciplinares de pessoas reunidas para trabalhar em um desafio específico, ficam responsáveis por desenvolver soluções viáveis para implementação. O objetivo da ação extensionista é capacitar estudantes, professores e empreendedores em áreas estratégicas, como transformação digital, sustentabilidade e economia circular. 

“Nessa primeira jornada, tivemos 150 executores participantes inscritos, 75 selecionados para as fases de maratona e ideação e 20 executores bolsistas selecionados para a fase de prototipação. Estes formaram 5 squads com 4 executores cada. Cada squad está desenvolvendo uma solução para um desafio diferente. No momento, estamos finalizando a primeira jornada com 5 produtos sendo desenvolvidos para a Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade de Pernambuco (SEMAS), para a Secretaria da Mulher de Pernambuco (SECMulher) e para a empresa Agrivale - Agricultura do Vale Ltda. Esses produtos irão participar, ao final, da Arena Final, promovida pela Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação do Estado de Pernambuco (SECTI/PE), para a escolha dos projetos premiados, o que deve ocorrer durante a edição 2025 da Campus Party”, detalha o professor Manoel Guedes.

Assim, foram desenvolvidos cinco MVPs (Mínimo Produto Viável), os quais deram origem a cinco startups: Green Label (certificação ambiental), Pra Elas (plataforma de proteção à mulher), Contrack.gov (gerenciamento de ações ambientais), Bora Uva (monitoramento de pallets) e RecicloHub (integração da cadeia de reciclagem). Além das habilidades técnicas (hardskills) em áreas como Design Thinking, User Experience, Inteligência Artificial, Prototipagem, Plano de Negócio, Pitch e Experiências de Mercado, os participantes desenvolvem intensamente habilidades comportamentais pessoais (softskills), como liderança, trabalho em equipe e comunicação.

 

(Equipe do projeto, 2025)

Apresentação da startup RecicloHub

 

Segundo o coordenador da ação, para garantir a continuidade das propostas, os projetos de empreendedorismo desenvolvidos pelos executores já estão sendo submetidos a editais de startups. Além disso, a decisão de fixação no interior do estado tem sido estimulada pelas oportunidades abertas pela iniciativa extensionista. Para o próximo semestre, está prevista a realização da II Jornada INOVE.AÍ, com a expectativa de que mais 200 participantes sejam impactados, através do contato com as tecnologias do futuro e com novos negócios inovadores, por essa estratégia de desenvolvimento do empreendedorismo de inovação.

Desse modo, os interessados em participar do processo seletivo para a ação extensionista têm até o dia 31 de agosto para se inscreverem por meio de um formulário eletrônico, cujo link, juntamente com o edital, pode ser encontrado no perfil oficial do projeto no Instagram. Os participantes receberão certificação das instituições parceiras, que pode ser usada como carga horária complementar em seus cursos, e terão acesso aos laboratórios da UFPE e de outras instituições ligadas ao Governo do Estado. Adicionalmente, será concedida uma bolsa de R$700,00 mensais por um período de quatro meses aos selecionados para as fases de maratona e ideação que mantiverem o compromisso e a assiduidade no programa.

Ao cultivar o diálogo entre a Academia e as demandas concretas da sociedade, essas iniciativas extensionistas capacitam os estudantes com as competências técnicas e comportamentais exigidas pelo mercado de trabalho, além de estimularem o surgimento de líderes e empreendedores engajados com o desenvolvimento local. Dessa forma, a Universidade fortalece o ecossistema de inovação, nutrindo um ciclo que fortalece a economia e inspira as próximas gerações. Mais do que resolver problemas, esses projetos visam criar uma cultura de inovação aberta e colaborativa, mostrando que a união entre conhecimento e criatividade pode transformar a realidade.

 

Para mais informações:

Instagram do projeto INOVE.AÍ:  @inove.ai_