Segundo informações repassadas no trabalho de dissertação da mestra Dayse Dutra Leite, em 20 anos de Enade, não há dados que comprovem que esse tipo de avaliação em larga escala contribui para a qualidade e melhoria da Educação, mas, sim, para uma lógica de meritocracia

A pesquisadora e mestra Dayse Dutra Leite pelo Programa de Pós-Graduação em Gestão Pública para o Desenvolvimento do Nordeste (MGP), do campus Recife da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), alega, no trabalho de dissertação científico “Gestão da informação : uma análise do Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes [Enade] na Universidade Federal de Pernambuco”, que é preciso potencializar a geração de conhecimento sobre os cursos de graduação da UFPE, por meio da gestão das informações disponibilizadas pelo Enade, para consolidar uma cultura institucional permanente de leitura crítica e sistematizada das avaliações.
“Os resultados indicaram que, apesar da baixa utilização dos relatórios do Enade, há consenso sobre a necessidade de institucionalizar um processo de Gestão da Informação para direcionar melhorias na UFPE. Conclui-se que a institucionalização da gestão da informação pode servir como estratégia para fortalecer a cultura avaliativa e promover a melhoria contínua dos cursos de graduação. Mas a criação do conhecimento somente ocorrerá a partir do envolvimento das partes interessadas no compartilhamento e uso das informações”, atesta Dayse.
O estudo científico, orientado pela professora Nadi Helena Presser, gerou direcionamentos sobre os usos das informações, surgidas com o Enade, para a criação de um setor institucional específico voltado às análises, interpretações, disseminação e utilizações estratégicas desses dados. Dayse explica que a proposta de seu trabalho foi unanimemente reconhecida pelos respondentes como benéfica para a UFPE, mas que sua pesquisa possui limitações em relação às distintas realidades acadêmicas, especialmente por ter sido restrita ao Centro de Ciências Sociais Aplicadas (CCSA) do campus Recife da federal pernambucana.
“A principal delas diz respeito ao recorte institucional e amostral: o foco da pesquisa foi a UFPE, com aplicação de questionários especificamente no âmbito do CCSA. Embora os achados sejam relevantes e consistentes com a realidade investigada, não é possível generalizá-los para outras instituições de ensino superior sem a devida contextualização e adaptação às especificidades locais. Além disso, a adesão voluntária aos questionários pode ter influenciado o perfil dos respondentes, o que, por sua vez, impacta na representatividade dos dados e pode introduzir vieses na análise”, conta Dayse no seu trabalho.
Apontamentos no desenvolvimento da pesquisa do MGP que geraram subsídios para a dissertação científica foram: como a UFPE pode tornar as informações obtidas do Enade mais acessíveis e utilizáveis para as partes interessadas; identificação dessas partes interessadas e interesses nas informações do Enade; e propor a institucionalização de um processo de Gestão da Informação que possa transformar informações em ações de melhoria. Além disso, o trabalho de Dayse sinalizou sobre diretrizes para institucionalização de um processo de Gestão do Conhecimento que facilite o compartilhamento de informações e a geração de ideias inovadoras sobre o ensino e a aprendizagem.
“A gestão da informação no contexto do Enade, quando bem estruturada, pode se constituir como instrumento estratégico para a geração de conhecimento sobre a instituição, contribuindo para o fortalecimento da avaliação institucional e para o aprimoramento contínuo dos cursos de graduação. As informações advindas devem ajudar na definição de políticas públicas e guiar melhorias nas instituições e cursos. A orientação é que as instituições se apropriem dos dados para melhorar seus processos pedagógicos”, reforça a pesquisa da mestra em Gestão Pública para o Desenvolvimento do Nordeste e também servidora Secretária Executiva na UFPE.
EXAME MERITOCRÁTICO – De acordo com informações repassadas no trabalho de Dayse Dutra Leite, o Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes) apontou, em 2024, que “em 20 anos de Enade, não há dados que comprovem que esse tipo de avaliação contribui para a qualidade da Educação” e, conforme posicionamentos docentes, “essas avaliações, em larga escala, não surgiram com o propósito de melhoria, e sim com uma lógica de meritocracia, ranqueamento, sem o real propósito de resolver os problemas dos cursos”.
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