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UFPE concede título de Professor Emérito ao docente Gauss Moutinho Cordeiro

O título é um reconhecimento às contribuições do professor para as áreas da Estatística e da Matemática nos âmbitos nacional e internacional

O professor Gauss Moutinho Cordeiro entrou para a lista de professores eméritos da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) na tarde de terça-feira (dia 25). O título foi concedido em solenidade presidida pelo vice-reitor Moacyr Araújo, no Centro de Ciências Exatas e da Natureza (CCEN), em reconhecimento pelas contribuições do professor titular do Departamento de Estatística do CCEN às áreas da Estatística e da Matemática nos âmbitos brasileiro e internacional. No início da cerimônia, Moacyr Araújo comentou que estava feliz em participar da outorga de um título tão importante da Universidade. 

“Precisamos defender a universidade pública o tempo todo. Precisamos estar atentos para que a gente consiga manter esse grande patrimônio da sociedade brasileira. Para a UFPE, os professores eméritos e os doutores Honoris Causa são, ao mesmo tempo, pilares e vitrines. No momento em que nós concedemos um título de Professor Emérito ao professor Gauss, estamos dizendo para toda sociedade aquilo que nos é importante. É uma sinalização de que fazemos questão de continuar nesse processo de fortalecimento dos ideais do ensino público superior gratuito de qualidade e com muita meritocracia. Precisamos ficar reforçando isso o tempo todo, porque isso está na essência da universidade pública federal. Precisamos estar atentos para defender os meios que viabilizem isso”, afirmou o vice-reitor Moacyr Araújo, antes de concluir: “Para mim, é um grande dia, conceder um título a um dos meus ídolos da época de estudante aqui no Centro de Tecnologia e Geociências. Um dia para eu botar no Lattes”.  

Acesse aqui o álbum de fotos da cerimônia, de autoria de Júlia Alencar, da Ascom UFPE.

As contribuições do professor Gauss Cordeiro foram detalhadas, especialmente, pelo professor Francisco Cribari Neto, do Departamento de Estatística da UFPE, responsável por proferir o discurso panegírico na ocasião. Ele descreveu o homenageado como uma das mais proeminentes e influentes figuras da Estatística brasileira e disse que a cerimônia transcendia o reconhecimento formal de uma carreira acadêmica extraordinária, pois aquele momento representava a “celebração de uma vida inteira dedicada ao avanço da ciência no nosso país, à formação de gerações de estatísticos e ao desenvolvimento institucional de nossa área”.

“A trajetória acadêmica do professor Gauss é notável desde os primeiros passos. Sua formação múltipla já sinalizava a amplitude de seus interesses e sua capacidade extraordinária. Não é todo dia que encontramos alguém que consegue, simultaneamente, cursar e concluir com brilhantismo duas graduações desafiadoras como Matemática e Engenharia Civil. Seu doutorado no Imperial College, sob orientação dos renomados estatísticos Peter McCullagh e David Cox, foi um período de intensa produção intelectual que estabeleceu as bases para muitas de suas contribuições futuras. O professor Cox, vale ressaltar, é um dos maiores estatísticos de todos os tempos”, afirmou Francisco Cribari Neto.

“O professor Gauss é, indubitavelmente, um dos precursores da Estatística no Brasil. Junto com outros pioneiros, como o professor Pedro Morettin, da Universidade de São Paulo, foi responsável por estabelecer os alicerces da comunidade estatística nacional. A fundação da Associação Brasileira de Estatística (ABE) é um marco histórico que devemos em grande parte à sua visão e liderança. A criação da Revista Brasileira de Probabilidade Estatística, hoje Brazilian Journal of Probability and Statistics, publicado com o prestigioso Institute of Mathematical Statistics é outro testemunho de seu papel fundamental na institucionalização da Estatística como área de pesquisa no Brasil”, antes de especificar: “Sua contribuição para o desenvolvimento da Estatística no Nordeste merece destaque especial. Ao fundar o Programa de Pós-Graduação em Estatística da UFPE, hoje com nota 5 na Capes, o professor Gauss não apenas estabeleceu um centro de excelência em Pernambuco como também fomentou o crescimento da área em todo o Nordeste. É notável e digno de registro que, historicamente, a Estatística se desenvolveu mais expressivamente na Região Nordeste do que na Região Sul do país, fato que se deve em grande medida à atuação incansável do professor Gauss”.

Ao longo do discurso, foram citados outros reconhecimentos dados à trajetória do professor Gauss Cordeiro e destacados exemplos de sua produção acadêmica – composta por mais de 540 artigos publicados em periódicos científicos, incluindo a Biometrika e Journal of the Royal Statistic Society, e dez livros publicados. O professor Francisco Cribari Neto pontuou que as contribuições teóricas de Gauss Cordeiro abrangem áreas fundamentais como teoria assintótica, análise de regressão, análise de sobrevivência e teoria das distribuições. 

“Como orientador, foi responsável por 38 mestres e 23 doutores, com mais três orientações de doutorando em andamento. Os números traduzem-se em uma contribuição decisiva para a formação de recursos humanos qualificados. Seu compromisso com a excelência acadêmica e seu rigor científico moldaram gerações de estatísticos brasileiros. Muitos dos quais hoje ocupam posições de destaque em universidades e centros de pesquisa por todo o país. O professor Gauss personifica os mais elevados valores acadêmicos, tendo construído sua carreira com base no talento, na dedicação e no trabalho árduo”, elogiou o professor Francisco Cribari Neto, para em seguida se dirigir ao professor emérito da UFPE: “Gauss, sua trajetória inspira e continuará inspirando gerações. Seu legado transcende os números impressionantes de publicações e citações, materializando-se na consolidação da estatística como ciência no Brasil e na formação de incontáveis profissionais que hoje contribuem para o desenvolvimento do nosso país. Esta homenagem, longe de ser apenas reconhecimento formal, é a expressão de nossa profunda gratidão por sua dedicação à ciência, ao ensino, à formação de novos professores. O título de Professor Emérito da UFPE é mais que merecido e representa o reconhecimento institucional de uma trajetória que já está inscrita de forma indelével na História da Estatística Brasileira”.

COMISSÃO DE HONRA - O panegírico é um dos destaques da cerimônia de outorga do título de Professor Emérito, mas ela tem início com a formação da mesa solene e a condução do homenageado ao recinto pela comissão de honra. Desta vez, a comissão foi composta pelo professor do Departamento de Matemática da UFPE Manoel Lemos, pelos professores do Departamento de Química Fundamental da UFPE Alfredo Simas e Gilberto Sá, que foi agraciado com o título de emérito em 2019; pelos professores do Departamento de Estatística da UFPE Cristina Raposo, Francisco Cribari Neto, Audrey Cysneiros e Francisco Cysneiros; e pelo professor do Departamento de Ciência Florestal da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) José Antônio Aleixo, ex-presidente da Academia Pernambucana de Ciências.

Já a mesa solene contou com mais alguns representantes da comunidade acadêmica além do próprio Gauss Cordeiro, do vice-reitor Moacyr Araújo e do professor Francisco Cribari Neto. O grupo também contou com a professora do Departamento de Química Fundamental Claudete Fernandes, que é diretora do CCEN; o professor do Departamento de Engenharia Civil e ex-reitor da UFPE Anísio Brasileiro; a pró-reitora de Pós-Graduação, Carol Leandro; o pró-reitor de Pesquisa e Inovação, Pedro Carelli; e o professor do Departamento de Estatística Manoel Raimundo Sena Júnior.

Após vestir a samarra azul, cor que simboliza as Ciências Exatas e da Natureza, o professor Gauss Cordeiro assinou o diploma de Professor Emérito da UFPE e o ato de outorga do título junto ao vice-reitor Moacyr Araújo. O professor homenageado fez um breve discurso de agradecimento.

“Gostaria de dizer algumas palavras e compartilhar minha alegria de estar presente neste momento. Em nome de Moacyr, saúdo os demais membros da mesa. Eu não aprecio muito solenidades, mas esta é importante para mim pois retrata que o Conselho Universitário da UFPE valorizou meu trabalho para engrandecê-la pelo menos no contexto da área de Estatística, em que atuo há mais de meio século. Espero dizer em poucas palavras o que deve ser dito em uma sessão como esta. A honra de professor emérito se encontra muito mais na UFPE do que em mim, pois é nela que reside o maior legado, o de ser uma instituição voltada para o desenvolvimento da nossa sociedade no âmbito da educação superior”.

“Tenho uma grande paixão pela Matemática desde criança, devendo muito ao incentivo do meu pai, Sidrack Cordeiro, que foi professor de Física na Escola de Engenharia da UFPE. Fiquei mais motivado pela Matemática do que pela Engenharia após participar de vários colóquios de Matemática em Poços de Caldas em 1971. Alguns cursos e palestras desses colóquios me direcionaram para a pesquisa científica. Fiz mestrado em pesquisa operacional (na UFRJ) para poder estudar técnicas de matemática aplicada úteis em Engenharia. Depois, passei a me dedicar à estatística Matemática, com a conclusão do doutoramento em Estatística, área em que persisto trabalhando até hoje, tendo mais interesse em modelos de análise de sobrevivência e confiabilidade. Nos anos 1980, a Estatística tinha pouca projeção no Brasil e era tida como uma simples área da Matemática. Fundamos a Associação Brasileira de Estatística, em 1983, quando a Royal Statistic Society completou 150 anos, e criamos, o professor Djalma Pessoa e eu, na minha sala na UFPE, o Brazilian Journal of Probability and Statistics, originalmente com outro nome e que hoje se tornou um periódico internacional nessas áreas. Já no final dos anos 1980, a Estatística começou a se popularizar com a expansão dos microcomputadores e a criação de várias escolas especializadas em áreas como séries temporais e modelos de regressão. Alguns cursos começaram a se consolidar. Entre eles, o da UFPE, que ocupa hoje a segunda posição em termos de qualificação entre os existentes no país. Não foi fácil criar uma pós-graduação de Estatística com qualidade no Nordeste. Isso só foi alcançado graças ao trabalho incessante de vários colegas. Muitos de nossos ex-alunos são hoje professores em outras universidades do Brasil e do exterior”, recordou o professor Gauss Cordeiro.

“A Estatística desempenha um papel muito importante na vida atual, tanto na academia quanto fora dela. Na pesquisa científica, para projetar experimentos e validar descobertas. Prever a probabilidade de acidentes, de recorrência e cura de certas patologias. Avaliar a eficácia de políticas de saúde, de processos de decisão em setores públicos e privados. Análise preditiva de tendências e comportamentos futuros. Aprimorar resultados de políticas educacionais e no desenvolvimento de políticas sociais. Precisamos continuar formando capital humano mais especializado em estatística face aos seus efeitos multiplicativos em todas as áreas de conhecimento”, defendeu. 

“Ser cientista no Brasil exige muita dedicação e trabalho com afinco, muitas vezes, privar-se de um maior convívio com a família e amigos. É isso que devemos transmitir às futuras gerações: a urgência da busca, inclusive do improvável. E, para terminar, preciso falar um pouco da minha família, sem a qual nada disso teria acontecido, e que certamente constitui a forma mais preciosa que desenvolvi na vida. Começo pelo meu pai, Sidrack; minha mãe, Terezinha; Zilma, minha esposa, um apoio incondicional; e finalmente, os meus três filhos, Leilane, Lilian e Lucas. Eles fizeram e persistem fazendo toda diferença na minha vida. Foram muito importantes na minha trajetória. Dedico esse título a eles. Agradeço às autoridades da UFPE a oferta pública desta honraria e à presença de todos neste evento”.   

Entre os presentes na plateia, estavam familiares e amigos do homenageado e diversos membros da comunidade acadêmica. Foram registradas presenças como as do professor do Departamento de Química Fundamental Ricardo Oliveira, que é presidente da Associação dos Docentes da UFPE (Adufepe); da professora dos Cursos de Educação Física do Centro Acadêmico de Vitória (CAV) e ex-vice-reitora da UFPE Florisbela Campos; do professor aposentado do Departamento de Energia Nuclear Carlos Costa Dantas, que recebeu o título de emérito em 2025; do professor do Departamento de Química Fundamental Gilberto Fernandes de Sá, que foi reconhecido com o título de emérito em 2019; do professor do Departamento de Física Renê Montenegro; do professor do Departamento de Bioquímica Luiz Bezerra de Carvalho, que também receberá o título de emérito; e da professora do Departamento de Engenharia Química Yêda Almeida, diretora do Centro de Tecnologia e Geociências (CTG).

Formação Acadêmica – Gauss Cordeiro possui graduação em Bacharelado em Matemática pela Universidade Católica de Pernambuco (1973) e em Engenharia Civil pela Universidade Federal de Pernambuco (1974). Também possui Mestrado em Engenharia de Produção pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1976) e Doutorado em Estatística pelo Imperial College, University of London, Inglaterra (1982). Fez pós-doutorado na University of London (1986-1987) e no Instituto de Matemática Pura e Aplicada (1990-1992). 

A cerimônia de outorga do título de professor emérito ao docente Gauss Moutinho Cordeiro foi transmitida ao vivo pela Diretoria de Comunicação por meio do canal da UFPE no YouTube.

*Arte a partir de foto de Júlia Alencar | Ascom UFPE

Date of last modification: 01/04/2025, 11:17