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Resíduos de garrafas long neck podem ser usados na indústria de construção civil

Fragmentos são utilizados na produção de geopolímeros, que podem ser incorporados à fabricação do cimento

Por Alexsandro Fonseca

Desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Ciência de Materiais do Centro de Ciências Exatas e da Natureza (CCEN) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), a tese de doutorado “Design, Preparação e Caracterização Química, Física e Estrutural de Geopolímeros com Resíduos de Vidro de Garrafas Não Retornáveis Long Neck” propôs uma nova forma de lidar com os resíduos das garrafas de vidro long neck. A pesquisa concluiu que fragmentos desse tipo de garrafas podem ser usados para produzir os chamados geopolímeros, substâncias utilizadas na indústria de construção civil, como alternativa mais sustentável aos materiais produzidos com cimento Portland. O estudo, defendido em março deste ano, é de autoria da pesquisadora Cassiana Mendonça dos Santos, sob orientação das professoras Nathalia Bezerra de Lima e Érika Pinto Marinho.

Ao observar que havia uma dificuldade em aproveitar os resíduos gerados pelas garrafas long neck, que não voltam para a indústria vidreira, Cassiana estudou a possibilidade de usá-los na síntese de geopolímeros para, então, incorporá-los à fabricação de cimento. Os chamados geopolímeros são inovadores no setor de construção civil e possuem propriedades semelhantes aos materiais provenientes do cimento Portland, que, atualmente, é o mais utilizado no mundo. Essas substâncias ajudam a produzir pastas, argamassas e concretos, também estando presentes em outras indústrias, como a de materiais refratários e de peças de cerâmica.

A pesquisa durou quatro anos, e foram estudados três tipos de garrafas, nas cores âmbar, azul e verde. Dos três tipos, a âmbar apresentou os melhores resultados, já que, a longo prazo, era a que melhor preservava as qualidades necessárias para o uso industrial. Para os testes, foram coletadas 75 delas em estabelecimentos comerciais de Caruaru, no Agreste de Pernambuco. Após a coleta, as garrafas passaram por um processo de lavagem e retirada dos rótulos. Em seguida, as garrafas foram trituradas, moídas e, então, peneiradas. Após o último processo, os resíduos chegaram à chamada escala nanométrica, podendo ser utilizados na síntese geopolimérica.

No meio industrial, existe a vantagem de o material apresentar alta resistência à compressão, ao fogo, ao congelamento e ao degelo, além da característica da durabilidade. Cassiana explica que a adoção dos resíduos de vidro é viável para o ramo da indústria de construção civil e afirma que, em grande medida, as propriedades presentes no material estudado são melhores. “A incorporação de resíduos de garrafas long neck à matriz geopolimérica cria uma nova alternativa para redução das fontes de emissão de gases do efeito estufa trazidas pelo cimento Portland, reduz o impacto ambiental gerado pelo resíduo de garrafa não retornável, que gera intenso impacto ao meio ambiente e, simultaneamente, produz um material compatível ou com propriedades até melhores do que os geopolímeros convencionais”, afirma.

A autora do estudo também explica que os polímeros inorgânicos, como o usado, são compostos por cadeias de átomos de silício e oxigênio e são formados através de reações de geopolimerização. A reação envolve a mistura de um precursor e um ativador alcalino. Ainda segundo a pesquisadora, os materiais geopoliméricos são considerados promissores devido à menor emissão de dióxido de carbono, que é um dos gases responsáveis pelo efeito estufa. 

“Ambientalmente, os materiais geopoliméricos são considerados promissores, devido à menor emissão de CO2, em comparação à produção do cimento Portland, e devido à possibilidade de uso de resíduos industriais em sua  produção. O uso das garrafas não retornáveis long neck nestes geopolímeros mitiga um problema ambiental gerado pela grande produção desse tipo de  garrafa no Brasil e sua não reutilização pela indústria vidreira, resultando em milhares de toneladas de vidros descartados em lixões e aterros controlados”, diz.

Além dos prejuízos ambientais, Cassiana também explica que a adoção evitaria alguns problemas de saúde pública, que ocorrem devido ao descarte irregular dos resíduos. “O descarte descontrolado de resíduos de vidro na natureza resulta em potenciais prejuízos para saúde humana, como proliferação de vetores e doenças, ferimentos e cortes, liberação de substâncias tóxicas, impacto na qualidade da  água, riscos respiratórios, aumento da poluição e do aquecimento global, por milhares de anos, tendo em vista que o tempo total de decomposição do vidro na natureza pode alcançar até um milhão de anos, dependendo das condições às quais o material é submetido”, alerta.

Mais informações
Programa de Pós-Graduação em Ciência de Materiais da UFPE
(81) 2126.8412 
(81) 2126.8418

pgmtr.ccen@ufpe.br 

Cassiana Mendonça dos Santos
cassiana.mendonca@ufpe.br

Data da última modificação: 27/08/2025, 14:02